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Reunião Orplana Leitura dos Fatos da Cana em Novembro de 2015

Prof. Dr. Marcos Fava Neves

O que acontece com nosso agro?

  • A mais recente estimativa da FAO mostra que o mundo vai produzir 2,53 bilhões de toneladas de grãos na safra 2015/16. A FAO esperava quase 5 milhões de toneladas a mais na projeção do mês passado. Esta produção será 28,8 milhões de toneladas (2%) mais baixa que 2014/15, mostrando um novo quadro com inversão no acúmulo de estoques. O consumo de grãos será de 2,528 bilhões de toneladas (50% para ração animal), sendo 29 milhões de toneladas (1,2%) acima do consumo de 2014/15. Os estoques são de 638 milhões de toneladas (25% do consumo anual). A perspectiva então seria no mínimo de manter os preços atuais, que quando convertidos a real, estão bem razoáveis. O índice de preços da FAO subiu no período
  • CONAB estima a safra brasileira de 2015/16 entre 208,6 a 212,9 milhões de toneladas. É esperado um crescimento de 2% em relação a 2014/15, quando produzimos 208,53 milhões. Soja deve crescer quase 7%, chegando a 103 milhões de toneladas, e o milho cair 2,3%, para perto de 82 milhões de toneladas. Nossa capacidade de armazenagem é de 160 milhões de toneladas. Vem coisa boa por ai!
  • As exportações do agro em outubro (US$ 7,78 bilhões) se comparadas com o mesmo período de 2014 (US$ 7,95 bi), tiveram ligeira queda (2,1%), trazendo um saldo agro na balança de US$ 6,73 bi (3,4% maior, graças à grande queda nas importações do agro). O valor exportado acumulado no ano (US$ 74,7 bilhões) apresentou queda de 10,9% quando comparado com o mesmo período de 2014 (US$ 83,9 bilhões). O saldo continua robusto neste período (US$ 63,6 bi), porém, com queda de 8,9%. Neste mês, o agro se beneficiou das retomadas nas exportações de soja e milho, e também no crescimento das importações da China. Por outro lado, tivemos perdas importantes produtos como açúcares, carnes e couros. A perda de volumes de exportação, mesmo com um câmbio bem mais favorável, é algo que tem me intrigado ao longo dos últimos meses.

O que acontece com nossa cana?

  • Mais recente previsão, a Datagro coloca 605,9 milhões de toneladas no Centro Sul, 4% a mais que a safra 14/15. O Nordeste deve produzir 52 milhões de toneladas, bem menos que as 59 milhões de 14/15. Já a FCStone estima o Nordeste perdendo 6 milhões de toneladas com a seca, caindo para 53,5 m.t.
  • Podemos ter uma sobra de 30 milhões de toneladas para o ano que vem, o que pode fazer com que a safra comece mais cedo.
  • Segundo a UNICA, até 31 de outubro processamos 518,82 milhões de toneladas, contra 515,32 m.t. na safra anterior.
  • Czarnikow lança uma plataforma de sustentabilidade chamada de Thrive. A trading comercializa 10% do açúcar mundial e esta plataforma, em conjunto com a certificadora AB Sustain vai considerar todos os elos da cadeia produtiva, produtores, indústrias, transportadores e varejo. Está aí uma oportunidade de inserir o Consecana na plataforma.
  • A Biosev apresentou os resultados do trimestre, e estes corroboram a análise que tenho feito neste ano. Operacionalmente, a empresa deu lucro de R$ 344 milhões. E apenas de pagamentos de juros, empréstimos e financiamentos, desembolsou R$ 233 milhões. Ou seja, é o endividamento corroendo os ganhos operacionais, que envolvem 10% de redução de despesas fixas e também 14,3% de crescimento na produtividade do canavial e ATR de 137,5 (recorde de 4 safras).
  • Na mesma linha, a São Martinho viu seu endividamento crescer 28% (R$ 663 milhões) desde março, fruto da valorização do dólar. Apresentou resultado pior neste trimestre em relação a 2014, pois teve a estratégia de reter produtos esperando os melhores preços, que a meu ver é acertada, portanto espera-se resultado muito bom no período que se inicia.

O que acontece com nosso açúcar?

  • A OIA em sua mais recente estimativa, coloca um déficit de 3,5 milhões de toneladas no mercado mundial de açúcar em 2015/16. Interessante é que em agosto a previsão de déficit era de pouco menos de 2,5 milhões de toneladas. A FCStone projeta o tombo em 5,6 milhões de toneladas.
  • Mesmo assim os estoques ainda estão elevados no mundo, e e segundo a Copersucar temos ainda 85 milhões de toneladas, o que abastece o mercado por seis meses.
  • Com o maior uso da cana para etanol, a produção de açúcar, segundo a UNICA, no Centro Sul (até 31/10) está em 27,5 milhões de toneladas, cerca de 2 milhões abaixo de 2014. Estima-se que o Brasil retirou com isto alguns milhões de toneladas de açúcar do mercado mundial.
  • As chuvas no Centro Sul, o maior consumo de etanol e o provável déficit de açúcar estão jogando os preços do açúcar para cima. O açúcar cristal atingiu o valor de R$ 75/saca de 50 kg em outubro e telas futuras podem chegar a 15 cents por libra peso.
  • Estima-se que as Usinas brasileiras tenham vendido já quase 30% do açúcar que será exportado em 2016/17. A média neste momento do ano seria de 10%.
  • As chuvas no Centro Sul, o maior consumo de etanol e o provável déficit de açúcar estão jogando os preços do açúcar para cima. O açúcar cristal atingiu o valor de R$ 75/saca de 50 kg em outubro e telas futuras podem chegar a 15 cents por libra peso.

O que acontece com nosso etanol?

  • Em setembro consumimos 1,6 bilhão de litros (48,3% acima de 2014). A vendas de gasolina em setembro caíram 12% e de diesel, 8%.
  • Em outubro, segundo a UNICA, as vendas de etanol das Usinas para as distribuidoras chegou a incríveis 1,7 bilhão de litros, 37% acima de 2014. Preços mais altos não frearam a demanda em outubro.
  • Ainda pela UNICA esta safra (até 31 de outubro) já teve vendas de 17,77 bilhões de litros (16,54 para o mercado interno e 1,23 b.l. para exportação), 25,3% acima de 2014. O aumento no consumo, na ponta final, de acordo com a Datagro está ao redor de 40%.
  • O hidratado chegou perto de R$ 1,80/l. na usina é trata-se do maior preço nominal já registrado pelo CEPEA em mais de 12 anos. O anidro atingiu R$ 1,90/l.
  • A Dupont inaugurou em Iowa a maior fábrica de etanol celulósico do mundo, e estima que este produto é competitivo apenas com o petróleo custando ao redor de US$ 70 a 3 80 o barril.
  • A subida de preços do etanol aqui no Brasil já começou a prejudicar as exportações aos EUA.
  • Pensando no futuro da gasolina, que é a principal concorrente do etanol, temos fatos interessantes para pensar. A Petrobrás vem seguidamente anunciando redução de investimentos futuros, a capacidade de refino no Brasil é limitada, a venda de novos carros, mesmo com a situação de crise, continua, abrindo mais mercado, o elevado endividamento da empresa impede com que esta pratique preços não remuneradores na gasolina e temos uma situação cambial que dificulta a importação de gasolina… Fora as questões ambientais.

Comentário Final:

  • Participei neste mês de um interessante evento em Washington (EUA) no WWF – World Wildlife Fund. 50 pessoas, entre cientistas, agentes públicos e privados de mais de 20 países foram selecionadas para discutir, em formato de um interessante jogo, as possíveis reações do agronegócio a futuras crises mundiais, num modelo de simulação de crises e ações. Os resultados estarão no site foodchainreaction.org para os que tiverem interesse. Mas o fato é que teremos um mundo absolutamente mais complexo vindo pela frente, sendo nosso papel acompanhar e tentar prever para auxiliar na tomada de decisão.

Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires.

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