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Moagem Surpreende e Passa 2021/22

Seguem nossas reflexões dos fatos e números da cana em novembro/dezembro e o que acompanhar em janeiro. Na cana, a moagem na principal região produtora do Brasil (Centro-Sul) superou pela primeira vez em 2022/23 o ritmo da safra anterior. Segundo dados da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), no acumulado deste ciclo (entre 1° de abril e 1° de dezembro) 531,9 milhões de t de cana foram moídas, 2,0% a mais do que na mesma data de 2021.

Surpreendem os números da última quinzena de novembro, quando foram moídas 16,23 milhões de t de cana, 318,75% a mais do que no mesmo período de 2021/22.

A quantidade processada da matéria-prima em 2022/23 já supera o total do ciclo passado, quando o balanço da Única foi concluído com 523,45 milhões de t. A recuperação do ritmo é resultado do maior número de unidades ainda em operação; até o final de novembro, 84 usinas ainda estavam em atividade (contra 27 na mesma data de 2021/22) e outras 175 haviam encerrado as operações.

No campo, a produtividade das lavouras, segundo levantamento do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) levando em conta a amostragem em 27 usinas, aponta que a média para novembro ficou em 67,9 t por hectare, 7,3% maior do que no mesmo mês de 2021 (63,3 t por hectare naquela ocasião).

Já a qualidade da matéria-prima colhida ficou em 139,87 kg de ATR (Açúcar Total Recuperável) em novembro, alta de 4,3% para o mês. No acumulado da safra, o indicador chegou a 141,12 kg de ATR por t, uma leve queda de 1,31% na comparação com 2021/22.  Dados também são da Unica.

Em relação ao mix de produção, a média atual do setor para o acumulado de 2022/23 está em 46,05% para o açúcar e 53,95% para o etanol, ciclo um pouco mais açucareiro do que o passado (era de 45,12% e 54,88%, respectivamente). A eficiência industrial encontra-se com 44,6 litros de etanol para cada t de cana-de-açúcar (- 3,05%) e de 61,93 kg de açúcar por t da matéria-prima (+ 0,74%).

No mercado de CBios (créditos de descarbonização), 29,06 milhões de créditos foram emitidos até o dia 08 de dezembro, de acordo com dados da B3. 87% da meta do Renovabio foi adquirida até o momento em 2022, pela parte obrigada do programa, com cerca de 31,2 milhões de créditos.

A Tereos anunciou lucro líquido de £ 133 milhões durante o primeiro semestre do ciclo 2022/23, com o segundo trimestre representando 48% do montante. O resultado traz alento a companhia francesa, uma vez que havia acumulado prejuízo na safra anterior. Os preços mais atrativos do açúcar e etanol foram os principais impulsionadores da recuperação, gerando um crescimento da receita global de 35% (para £ 2,975 bilhões) e Ebitdaduas vezes maior (£ 464 milhões). Com isso, a dívida líquida da empresa se manteve em £ 2,2 bilhões.

No açúcar,  com o aumento da moagem de cana, a produção de açúcar também superou a oferta acumulada até aqui: 32,9 milhões de t do adoçante haviam sido produzidas até 1° de dezembro, contra 32,0 no mesmo período de 2021, alta de 2,8%. Na última quinzena de novembro, a fabricação do adoçante cresceu incríveis 532,3%, com 1,03 milhão de t fabricadas, segundo a Unica.

No mercado internacional, o açúcar brasileiro segue sendo destaque.

Em novembro, foram exportadas 4,07 milhões de t, alta de 53,0% na comparação com novembro passado (2,66 milhões de t). Já as receitas cresceram ainda mais, somando US$ 1,66 bilhões, aumento de 78,7%; em novembro de 2021, havia sido de US$ 929,5 milhões. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Agricultura (Mapa).

Segundo levantamento da Archer Consulting, 61% do volume de açúcar a ser comercializado com o mercado externo em 2023/24 (safra que começa em abril) já estava com preços fixados até o final de novembro. No mês passado, 2,8 milhões de t do adoçante foram vendidos de forma antecipada. Ao todo, (acumulado) 14,64 milhões de t do açúcar a ser produzido em 2023/24 já tem preços definidos.

avanço expressivo nas fixações do açúcar no último mês tem relação direta com a alta do dólar e a valorização do adoçante na Bolsa de Nova York.

Novembro fechou com valores médios de R$ 2.310 por t de açúcar, posta no porto de Santos.  Já em relação ao total fixado até aqui, os preços estão em R$ 2.225 por t ou 17,7 centavos de dólar por libra-peso (com prêmio de polarização).

Na Europa, a CIUS (organização que representa as indústrias consumidoras de açúcar no bloco) sinalizou que alguns países enfrentam a escassez do adoçante, o que tem feito os fabricantes a pagarem mais caro para garantir a produção. A associação cobra a União Europeia de suspender temporariamente as tarifas de importação para normalizar a situação. Brasil e Índia seriam os dois principais alvos para negociações de importações, pelos representantes da organização.

No etanol, a oferta acumulada do etanol também cresceu graças ao maior processamento de cana. 26,6 bilhões de litros do biocombustível foram produzidos no acumulado de 2022/23 até 1° de dezembro, alta de 1,3%. Desse total, 11,25 bilhões de litros correspondem ao anidro (+ 5,8%) e outros 15,3 bilhões de litros ao hidratado (-1,75%), que segue com ritmo menor de produção neste período, reflexo da redução no consumo nos postos. Os dados são também da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar).

Na última quinzena de novembro, 887,26 milhões de litros de etanol foram produzidos (+ 148,0%), sendo 387,40 milhões de litros do hidratado (+ 220,6%) e 499,86 milhões de litros do anidro (+ 111,03%). Do total de etanol produzido até o momento, 2,85 bilhões de litros tiveram o milho como matéria-prima, uma alta de 26,3% no comparativo com o ciclo anterior. A participação do cereal na produção do biocombustível já soma 11,0% do total nacional e deve seguir em expansão para o próximo ano.

Novembro também foi bastante positivo para as vendas do etanol: ao todo, 2,43 bilhões de litros foram comercializados pelas usinas no mês, alta de 17,8%. Desse total, 2,2 bilhões de litros (90,8%) foram comercializados com o mercado interno; e os outros 230 milhões de litros (9,2%) foram exportados. Sobre as vendas para o mercado interno em novembro, dos 2,43 bilhões de litros, 51,4% correspondem ao hidratado (1,25 bilhões de litros; + 18,21%) e 48,6% ao anidro (958,80 milhões de litros; + 11,90%). No acumulado do ano, a Unica indica que as usinas já comercializaram 19,83 bilhões de litros do etanol, alta de 4,30%, dos quais: 11,48 bilhões de litro correspondem ao hidratado (- 2,2%) e 8,35 bilhões de litros ao anidro (+ 14,9%). Os dois tipos representam 57,9% e 42,1% de participação, respectivamente.

E para fechar a seção referente ao etanol, trazemos uma visão sobre a dinâmica de preços no último mês de novembro: a média do indicador semanal para o hidratado, com base no levantamento do Cepea/USP, ficou em R$ 2,8329/l, registrando o segundo mês consecutivo de alta e crescimento de 5,7% frente a outubro (R$ 2,6803/l). No começo da safra (abril), o preço estava em R$ 3,6273/l, o que é importante de ser recordado. Pela SCA o valor do litro com impostos nas Usinas em 19/12 estava em R$ 3,06 para o hidratado e R$ 3,11 para o anidro.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em janeiro na cadeia da cana:

  1. Ritmo de moagem da cana-de-açúcar na região Centro-Sul. Ainda há um bom número de unidades em operação, o que deve refletir ainda mais na oferta de açúcar e etanol nesta safra, bem como nos estoques finais, impactando de forma direta a dinâmica para 2023/24.
  2. Olhar também para o clima neste final/início de ano, momento de chuvas na região Centro-Sul, fator de grande relevância para nos dar uma estimativa de como será o próximo ciclo. Até aqui, parece que estamos indo bem, mas vamos acompanhar diariamente.
  3. Seguir de olho nas estimativas e previsões das consultorias e bancos para a safra 2023/24. Temos visto um otimismo em geral, mas é preciso ter cautela. Momento de reunir informações e planejar, especialmente por conta dos possíveis impactos do próximo ponto que vamos destacar.
  4. As decisões do novo governo, tanto no campo de nomes para ministérios, como nas possíveis medidas e/ou políticas que serão priorizadas. As movimentações têm sido grandes até aqui. Desde outubro, a Petrobras, por exemplo, já perdeu R$ 184 bilhões em valor de mercado. Vamos torcer para que não tenhamos reações negativas que caminhem contra o setor.
  5. Por fim, gostaríamos de aproveitar o último para lembrar da importância de sermos resilientes, de planejarmos nossos passos, acompanhar com gestão e buscar cada vez mais a eficiência no ano que se aproxima.

Valor do ATR – novembro fechou com nova alta no valor mensal pago aos produtores: R$ 1,1518/kg de cana. Recordando aqui os avanços nesta safra: abril, R$ 1,2453/kg; maio, R$ 1,2212/kg; junho, R$ 1,1860/kg; julho, R$ 1,2037/kg; agosto, R$ 1,1387/kg; setembro, R$ 1,0662/kg; outubro com R$ 1,1079/kg; e novembro nos R$ 1,1518/kg, como vimos. No acumulado de 2022/23, o valor do ATR está em R$ 1,1699/kg, seguindo para ficar em torno de R$ 1,19/kg ao final deste ciclo, em abril. Desejamos a todos um excelente 2023, cheio de saúde e trabalho.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço ao apoio para elaborar este texto, bem como a co-autoria do Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.

 

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