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Moagem Surpreende e Passa 2021/22

Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Vinicius Cambaúva

Vitor Nardini Marques

Reflexões dos fatos e números da cana em fevereiro/março e o que acompanhar em abril

Na cana, a moagem acumulada na região Centro-Sul, referente a safra 2022/23, alcançou 542,5 milhões de t até o final de fevereiro, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). O resultado é 3,8% maior do que o mesmo período do ano passado; há um ano era de 522,7 milhões de t, ou seja, quase 20 milhões de t a mais neste ciclo. Ao final de fevereiro, 15 unidades estavam em operação na região Centro-Sul, sendo 4 delas usinas de cana-de-açúcar e outras 11 de etanol de milho. No mesmo período do ciclo passado eram 9 unidades em operação.

A avaliação da qualidade da matéria-prima, medida em Açúcar Total Recuperável (ATR), alcançou 141,1 kg/t até o final de fevereiro, 1,3% inferior aos 143,0 kg/t registrados no mesmo período de 2021/22. Já o mix de produção estava em 45,9% para o açúcar e 54,1% para o etanol, safra pouco mais açucareira (1 p.p.) do que a anterior (2021/22).

Prestes a iniciar a safra 2023/24 (oficialmente, em 1° de abril), a Unica estima que 18 usinas devem reiniciar suas operações ainda no mês de março, a depender das condições climáticas de cada região. O maior volume esperado de cana para processamento neste ciclo motivou a antecipação. Falando nisso, a StoneX elevou a estimativa para a moagem de cana-de-açúcar na região Centro Sul em 2023/24, passando de 588,2 milhões de t (previsão de janeiro/2023) para 592,1 milhões de t (março/2023). Já a Datagro fala em 590 milhões de t, 6,9% a mais do que 2022/23. A consultoria indica, ainda, uma produção de açúcar em torno de 30 milhões de t neste novo ciclo.

O otimismo para esta próxima safra tem relação, principalmente, com as condições climáticas positivas (chuvas e temperaturas) que beneficiaram os canaviais nos últimos meses. Por outro lado, vale lembrar que as chuvas podem influenciar a colheita e, consequentemente, o início das operações de moagem. Vamos acompanhar diariamente este aspecto, torcendo para que não haja atrasos.

No mercado de créditos de descarbonização (CBios), dados da B3 (Bolsa de Valores Brasileira) apontam que até 8 de março foram emitidos 5,84 milhões de créditos em 2023, tendo a parte obrigada no programa RenovaBio adquirido 39,32 milhões de créditos de descarbonização até o momento.

E a Raízen iniciou a construção de duas plantas de etanol de 2ª geração (E2G) nas unidades de Morro Agudo (SP) e Andradina (SP), sendo que cada uma deve receber investimentos na ordem de R$ 1,2 bilhão. Com estes anúncios, chegam a cinco as unidades que estão em obra para a produção de E2G no grupo.

No açúcar, a produção acumulada entre 1° de abril (2022) e 1° de março (2023) soma 33,5 milhões de t, 4,5% a mais do que na mesma data do ano passado ou 1,44 milhão de t adicionais; dados são também da União da Indústria de Cana-de-açúcar, a Unica.

Em relação ao mercado externo, as exportações do adoçante somaram 1,15 milhão de t em fevereiro, 43,2% inferior ao resultado de janeiro (2,02 milhões de t) e 33,4% menor do que fevereiro de 2022 (1,72 milhão de t). Este foi o menor volume para o mês desde 2015 e tem relação com o maior envio em meses anteriores (negociação antecipada feita pelas usinas), além do baixo estoque no período entressafra.

No acumulado de 2023 (janeiro e fevereiro), exportamos 3,15 milhões de t de açúcar, 3,1% a mais do que o mesmo bimestre de 2022. Desse total, cerca de 28% ou 880 mil t teve a China como destino, alta de 7,8% nas compras na comparação com o mesmo período do ano passado.

Segundo a FAO (Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), os preços médios do açúcar fecharam fevereiro em 124,9 pontos (com base no índice de preços da organização), uma alta de 8,1 p. p. (ou + 6,9%) em relação a janeiro; o maior valor desde fevereiro de 2017. A principal motivação para este comportamento foi a baixa na previsão para produção de açúcar na Índia em 2022/23.

A Organização Internacional do Açúcar (OIA) reviu para baixo as projeções para o superávit global de açúcar: de 6,19 milhões de t (novembro/2022) para 4,15 milhões de t (fevereiro/2023), redução de 32,9%. Esse movimento agitou as negociações do adoçante nos últimos dias.

Na data de fechamento da nossa coluna, o açúcar bruto na Bolsa de Nova York estava negociado a 20,48 centavos de dólar por libra-peso. Em Londres, ficou em US$ 580,60/t. Já no mercado Spot, a saca de 60kg do açúcar cristal branco era vendida em R$ 132,26 (Cepea/Esalq).

A queda recente nos preços do petróleo, em vista das preocupações com o setor bancário global, tem sido o impulsionador das pressões sobre as negociações do adoçante.

No etanol, em decorrência do maior volume processado de cana e também do crescimento da indústria do etanol de milho, a produção alcançou 28,2 bilhões de litros até o final de fevereiro, alta de 3,7% ou 1 bilhão de litros a mais, segundo a Unica. Desse total, 16,2 bilhões de litros correspondem ao hidratado (57,5% de participação; e 0,7 menor que 2022/23) e 12,03 bilhões do anidro (42,5% de participação; e 10,3% maior).

Na última quinzena de fevereiro, a produção de etanol foi de 149,8 milhões de litros, 26,2% a mais do que o mesmo período do ano passado.

Chama atenção o fato de que 97,0% deste volume corresponde ao etanol de milho, ou seja, a cadeia tem contribuído para maior oferta do biocombustível em períodos de entressafra. No total de 2022/23 (até 01/03), 4,0 bilhões de litros de etanol de milho foram produzidos, 26,4% a mais do que igual período do ciclo anterior.

Já em relação as vendas de etanol, seguindo o comportamento de janeiro, fevereiro fechou com alta de 5,0%: foram 2,1 bilhões de litros comercializados pelas usinas, sendo 1,09 bilhão de litros do hidratado (51,9%) e 999,88 milhões de litros do anidro (48,1%). No acumulado da safra 2022/23 (abril/2022 a fevereiro/2023), vendemos 15,2 bilhões de litros do hidratado (+ 0,9%) e 11,6 bilhões de litros do anidro (+ 16,5%). Dos 26,8 bilhões de litros comercializados do biocombustível, 9,0% foi enviado ao mercado externo e 91,0% vendido internamente.

Próximo do término da safra 2022/23 na região Centro-Sul, o Cepea/Esalq aponta que o preço médio acumulado (abril/2022 a fevereiro/2023) do etanol (São Paulo) ficou em R$ 2,8443/l para o hidratado e R$ 3,2444/l para o anidro, 15% menor do que a média do mesmo período do ciclo anterior, para ambos. O histórico de preços médios mensais ao longo da safra está em: R$ 3,6273/l em abril/2022; R$ 2,3650/l em set/2022, o menor valor em mais de 2 anos; R$ 2,6914/l em fevereiro/2023; e em R$ 2,7130/l nas parciais de março. Vamos acompanhar agora o comportamento com o início da safra e provável aumento da oferta pelas usinas.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em abril na cadeia da cana:

  1. O ritmo de abertura das operações pelas usinas da safra 2023/24, que começa em 1° de abril. Vale lembrar que, no último ano, o atraso prejudicou o desempenho produtivo durante boa parte da safra.  A Unica prevê que pelo menos 18 unidades iniciem as operações ainda em março.
  2. Aspecto determinante para o item anterior, acompanhar também o clima e o regime de chuvas. Altos índices pluviométricos prejudicam as operações de máquinas para colheita e, consequentemente, a oferta de matéria-prima para a indústria.
  3. Mesmo com início da safra, é provável que ainda leve um tempo para vermos algum impacto do aumento da oferta nos preços do etanol, lembrando, é claro, que há outros fatores envolvidos na precificação. Ainda assim, importante ficar de olho no comportamento de consumo interno e na venda pelas usinas, que já acumulamos duas altas mensais consecutivas em 2023.
  4. No mercado internacional, vamos olhar para as variações no preço do petróleo, que tem seguido tendência baixista nas últimas semanas. Em 20 de março, as cotações para o WTI Crude estavam em US$ 67,54/barril, o menor valor desde agosto de 2021 (no início do mês, em 06/03, chegou a US$ 80,46/barril); já o Brent fechava em US$ 73,77/barril na data supracitada, menor valor desde dezembro de 2021 (em 06/03, o preço era de US$ 86,18/barril). O alvoroço no mercado financeiro com a crise de bancos é o principal fator que justifica estas alterações.
  5. Por fim, vamos seguir acompanhando as decisões internas nos ambientes político/legal, especialmente as medidas do novo governo para precificação de combustíveis, taxas de juros, políticas de descarbonização (como a mistura de biocombustíveis) e outros.

Valor do ATR: o preço do ATR (Açúcar Total Recuperável) encerrou fevereiro com média de R$ 1,1792/kg, alta de 2,0% no comparativo com janeiro. Relembrando o histórico de preços: começamos a safra com R$ 1,2453/kg em abril; fomos a R$ 1,2037/kg em julho; caímos para R$ 1,1079/kg em outubro; e voltamos a R$ 1,1562/kg no mês passado. Com a alta deste mês, o acumulado para 2022/23 está em R$ 1,1682/kg, bem próximo dos R$ 1,17 que nós sugerimos aqui ao longo dos últimos meses.

Fonte: https://doutoragro.com/2023/03/29/analise-mensal-cana-marco-2023/

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