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Moagem em Alta Velocidade e Exportações Vigorosas

Na cana, no primeiro mês da safra 2024/25, o processamento da cana-de-açúcar na região Centro-Sul alcançou 50,6 mi de t, ou seja, 43,4% acima do que o registrado no ciclo anterior (35,3 mi de t). Até a última quinzena de abril, 44 usinas haviam reiniciado suas atividades, totalizando 217 unidades em operação (contra 212 em 2023/24), sendo: 201 com processamento de cana, 9 que produzem etanol a partir do milho e 7 flex, segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia).

Olhando para a qualidade da matéria-prima, calculada pelo ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), ficou em 112,96 kg/t, um avanço de 2,0% frente a última temporada. Enquanto isso, o mix de produção no acumulado da safra atual foi de 47,0% para o açúcar (alta anual) e 53,0% para o etanol (queda anual).

Dados da B3 (Bolsa de Valores do Brasil) até 10 de maio mostram que, neste ano, os produtores de biocombustíveis emitiram 14,7 mi de créditos. No total, 20 mi de CBios estão disponíveis para negociação, incluindo os detidos por partes obrigadas, não obrigadas e emissores. Ao somar os CBios disponíveis para comercialização com os créditos já aposentados para cumprir a meta de 2024, alcançamos aproximadamente 65,0% dos títulos necessários para atingir a meta do ano no primeiro mês da safra 2024/25.

A consultoria Datagro com base em simulações de mercado prevê uma queda no custo de formação dos canaviais de R$ 15,9 mil/ha para R$ 14,4 mil/ha, uma redução de 9,5% devido aos preços dos insumos. Os gastos com plantio devem cair 12,1%, ficando em para R$ 8,7 mil/ha e os tratos culturais da cana planta podem diminuir 13,5%.

No açúcar, a produção no mês de abril foi de 2,6 mi de t, com um crescimento de 66,2% (1,5 mi de t em 2023). Desses mais de 1 mi de t de aumento, somente 347 mil t são atribuídas à mudança no mix de produção, enquanto a maior parte, cerca de 670 mil t, é reflexo do avanço na moagem neste primeiro mês da safra. Nos próximos meses, esse cenário deve se alterar devido à expectativa de redução no rendimento da cana-de-açúcar. Dados também são da Unica.

O Brasil exportou 1,9 mi de t de açúcar (+ 94,7%) a um preço médio de US$ 517,3/t (+ 8,6%) no último mês. Foram as exportações que levaram o setor a ultrapassar pela primeira vez o montante de US$ 1 bi em abril. O valor vendido externamente mais do que dobrou, passando de US$ 461,8 milhões em 2023 para US$ 976,5 em 2024 (+111,5%).

Desde junho de 2022, a Índia (2º maior produtor de açúcar do mundo), proibiu as exportações para garantir o abastecimento doméstico e direcionar parte da produção para o etanol. O governo afirma que é improvável que as exportações sejam retomadas antes que o país tenha garantias de estoque suficiente para atender à demanda local e manter reservas para dois meses e meio. Além disso, a produção de etanol é uma prioridade em relação às exportações de açúcar.

A Raízen deve moer entre 82,0 e 85,0 mi de t na safra corrente iniciada em abril, mantendo volumes estáveis em relação à última temporada, que foi recorde. Mesmo assim, a empresa registrou um lucro menor do que o esperado na temporada 2023/24, devido a menos créditos fiscais e preços mais baixos do etanol. No entanto, a processadora olha com otimismo para o mercado de açúcar, visto que a proporção de estoques globais em relação ao uso está historicamente baixa, aumentando a dependência do mercado global no Brasil.

A Ucrânia pode aumentar a produção de açúcar em quase 3,0%, alcançando 1,8 mi de t em 2024, com um excedente exportável de até 950 mil t na temporada 2024/25, segundo o Sindicato Nacional do Açúcar Ukrtsukor. A União Europeia continua sendo o principal destino das exportações do adoçante ucraniano, porém, novas restrições podem reduzir significativamente esses volumes em 2024 e 2025. Com isso, o país destaca a necessidade de aumentar a eficiência dos portos do Mar Negro e a restauração do tráfego de contêineres, fatores cruciais para acessar mercados alternativos como a África Ocidental e a região do Mediterrâneo.

A cotação do contrato de jul/24 na Bolsa de Nova York estava em 18,65 centavos de dólar por libra-peso na data de fechamento da nossa coluna, queda mensal de 3,7%; e o menor nível desde setembro de 2022. O alto volume de açúcar esperado nesse ciclo, as perspectivas positivas para a safra e as vendas antecipadas, estão trazendo novamente os preços para baixo. Em Londres, o vencimento de out/2023 estava cotado em US$ 515,60/t.

No etanol, desde o início do atual ciclo agrícola até 1º de maio, a fabricação total de biocombustível atingiu 2,4 bi de litros (+32,4%). Destes, 1,8 bi de litros corresponde ao etanol hidratado (+55,0%), enquanto 584,1 mi de litros são de etanol anidro (-8,3%). A produção de etanol de milho na segunda metade de abril alcançou 298,6 mi de litros, um avanço de 51,0% em comparação com o mesmo período do ano passado e representando 20,0% da produção total. Já no acumulado da safra, a produção foi de 569,1 mi de litros (+30,2%), de acordo com dados da Unica.

Em abril de 2024, as vendas de etanol atingiram 2,8 bi de litros (+35,7%). O etanol anidro registrou vendas de 927,6 mi de litros (+6,3%), enquanto o etanol hidratado contabilizou 1,9 bi de litros (+56,6%). O volume de etanol hidratado comercializado internamente é o maior desde outubro de 2020, destacando a alta competitividade nas bombas. A diferença de preços entre o etanol hidratado e a gasolina está em 65,4% na média nacional, permitindo aos consumidores brasileiros economizarem e reduzirem as emissões de carbono, ajudando a enfrentar os desafios climáticos atuais.

Devido ao tempo seco, a moagem contínua da cana-de-açúcar na safra 2024/25 tem resultado em um aumento na disponibilidade de etanol, segundo o Cepea. Isso tem levado os compradores a exercerem pressão sobre os preços dos novos lotes. Enquanto algumas unidades produtoras têm aumentado sua oferta e vendido a preços mais baixos, outras optaram por manter sua posição.

Segundo a SCA Brasil, os preços do etanol hidratado (já com impostos), em Ribeirão Preto (SP), estavam em R$ 2,78/l em 22/05. No anidro, os preços eram de R$ 2,78/l (mesma praça e data).

 

Valor do ATR: no mês de abril, não houve atualização para os preços do Açúcar Total Recuperável (ATR). Para 2024/25, acreditamos em um valor entre R$ 1,15/kg a R$ 1,17/kg.

 

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em junho na cadeia da cana:

  1. Continuar acompanhando o progresso das operações de moagem na região Centro-Sul, com as usinas reiniciando suas atividades para o ciclo atual. No entanto, mesmo a Unica apontando um maior número de unidades em processamento já no começo da safra (217 até o final de abril, contra 212 em 2023/24), por conta de um clima favorável à colheita, o volume de moagem deve ser menor até o final da temporada.
  2. Ficar de olho no clima. Se por um lado as ondas de calor e o tempo seco no início da safra auxiliam as operações de colheita em algumas regiões, em outras, que serão colhidas no final da temporada, esse cenário pode ser prejudicial. Se o período seco persistir, impactos em produtividade poderão ser observados. Vamos acompanhar.
  3. No açúcar, a alta disponibilidade vêm pressionando os preços. Olhando para o mercado internacional, a Índia espera que as chuvas cheguem de forma regular, enquanto na Austrália, greves podem atrasar o início da moagem. Espera-se que os preços se mantenham na faixa de 17,5 a 19,5 c/lb, podendo alcançar valores maiores no segundo semestre com a possível influência do La Niña no desenvolvimento da cana-de-açúcar na região Centro-Sul. Há a expectativa de que com 18 cents comece um esforço de recomposição de estoques, segurando os preços.
  4. Para o etanol, a moagem contínua da cana-de-açúcar na safra 2024/25 também tem resultado em um aumento de disponibilidade. Isso tem levado os compradores a exercerem pressão sobre os preços dos novos lotes. O volume vendido do biocombustível hidratado aumentou consideravelmente (+56,6%), o maior desde outubro de 2020. No mercado do petróleo, até o fechamento da coluna o Brent estava em US$ 81,68/barril (-1,45%) e o WTI em US$ 77,32/barril (-1,7%).
  5. Por fim, acompanhar os desdobramentos de eventos geopolíticos no Brasil: troca de presidência da Petrobras, crescimento dos financiamentos para biocombustíveis, flexibilização da mistura de biodiesel e etanol em municípios do Rio Grande do Sul. E no cenário global, vale observar: a proibição de exportação de açúcar pela Rússia e continuidade do mesmo bloqueio feito pela Índia, o aumento da produção de adoçante pela Ucrânia e Indonésia, a redução na demanda por petróleo, entre outros.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP e mestre em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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