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Com Clima Favorável, Moagem Deve Superar 630 mi de t em 25/26


Reflexões dos fatos e números do agro em janeiro/fevereiro e o que acompanhar em março

Prof. Dr. Marcos Fava Neves, Vinicius Cambaúva e Beatriz Papa Casagrande

Na canaa moagem acumulada desde o início da safra 2024/25 até 01/02 na região Centro-Sul foi de 614,2 mil t, configurando uma queda de 4,9%, ante as 646,0 mi de t registradas no mesmo período no ciclo anterior, de acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). A entidade destaca que esse momento é de entressafra na região, sendo que o processamento deve começar a se restabelecer na metade de março.

Já o ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) acumulado atingiu 141,27 kg/t, sendo 1,2% maior do que o registrado há um ano (139,5 kg/t). Quanto ao mix de produção, a posição acumulada é de 48,15% para o açúcar (queda) e 51,85% (alta) para o etanol.

As condições climáticas passaram a ser mais favoráveis desde novembro para a cana-de-açúcar, trazendo perspectivas mais positivas para a safra 2025/26. As chuvas acima da média nos últimos 4 meses ajudaram a reverter o déficit hídrico causado pela estiagem no final da última moagem, principalmente no oeste paulista, onde a produtividade pode crescer até 8%, segundo o professor Fabio Marin, da Esalq/USP. Caso esse aumento se estenda pelo Centro-Sul, a região poderá compensar grande parte da quebra da temporada 2024/25, que teve uma média de 69,7 t/ha (-10,8%). No entanto, fatores como as ondas de calor previstas para fevereiro, a área destinada ao replantio, os investimentos no manejo agrícola e estratégias adotadas para o impacto dos incêndios ainda influenciarão o volume final da colheita. A produtividade da primeira fase da safra já apresenta sinais de melhora, enquanto o desempenho da etapa intermediária tende a se manter estável e a última parte da colheita pode superar os resultados do ciclo atual.

No açúcara fabricação acumulada da safra é de 39,8 mi de t, isto é, uma retração de 5,5% frente ao ciclo anterior (42,1 mi de t), segundo a Unica. Enquanto isso, nas exportações, o país embarcou 2,1 mi de t em janeiro, configurando uma redução expressiva de 34,9% ante o mesmo período de 2024 (3,2 mi de t), de acordo com o Mapa. Já o valor exportado foi de US$ 994 mi, com queda anual de 41,5% (era US$ 1,7 milhão do ano passado). Com isso, preços médios caíram 10,1% para US$ 482/t, frente US$ 537/t há um ano.

A Conferência Anual de Açúcar de Dubai – um dos maiores eventos sobre a commodity – aconteceu no dia 13/02 nos Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, foram discutidas as principais perspectivas para o setor em 2025. Segundo análises do Rabobank sobre as projeções, a disponibilidade do adoçante para exportação deve ser limitada nos próximos meses. Mesmo com o anúncio de uma cota de exportação de 1 milhão de t pela Índia, os estoques do Brasil seguem baixos. No entanto, para 2025/26 a expectativa é de um excedente global entre 2 e 5 mi de t. No Brasil, a moagem do Centro-Sul para 2025/26 é projetada entre 600 e 620 mi de t, com produção de açúcar entre 40 e 42 mi de t, aliviando o mercado no segundo semestre deste ano. Enquanto na Índia, a safra atual foi impactada pela doença da podridão vermelha, reduzindo a produção para 27 mi de t, abaixo do consumo entre 28 e 29 mi de t. Para 2025/26, é esperada uma recuperação com possível excedente de 4 a 5 mi de t para exportação no país.

Ainda segundo o Rabobank, a incerteza deve dominar o mercado na próxima temporada, devido ao clima adverso no Brasil e à produção indiana. Além disso, grandes importadores, como a China, podem aumentar as compras se o excedente global pressionar os preços para a paridade do etanol. Na sondagem final do evento em Dubai, 90% dos participantes projetaram preços entre R$ 0,16 e R$ 0,22/lp para dezembro de 2025, refletindo as possibilidades de uma supersafra indiana e os riscos climáticos no Brasil.

De acordo com a Hedgepoint Global Markets, a produção de açúcar no Brasil para a safra 2025/26 deve atingir 43,3 mi de t, um aumento anual de 8,5%. O crescimento é reflexo da maior disponibilidade de cana e direcionamento da matéria-prima para a produção do adoçante. No entanto, a recuperação pode ser limitada pelas condições desfavoráveis em 2024. A produtividade média esperada é de 82,0 t/ha, com uma colheita projetada em 630,0 mi de t, superando as 617,7 mi estimadas para 2024/25. Além disso, as exportações devem crescer, alcançando 34,3 mi de t em 2025/26, porém, a infraestrutura logística do país, já sobrecarregada por safras recordes de milho e soja, representa um desafio adicional.

Enquanto isso, na Tailândia (2º maior exportador global), a produção de açúcar pode atingir seu maior volume em 7 anos na safra 2025/26, impulsionada pela migração de agricultores da mandioca para a cana devido à queda nos preços da raiz. Segundo o Mitr Phol Group, a colheita de cana deve crescer de 92 para 105 mi de t, elevando a produção de açúcar de 10,3 para 11,5 mi de t. Com um consumo interno baixo, entre 2,5 e 3 mi de t, o excedente deverá reforçar as exportações.

Em relação aos preços, o contrato para entrega em mar/2025 estava sendo negociado em 21,31 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, alcançando o maior patamar dos últimos 2 meses; já o contrato de mai/25 ficou em 19,92 cents/lbp e o de jul/2025 em 19,47 cents/lbp. Em Londres, a reação também foi positiva e o contrato de mai/2025 estava fechou em US$ 526,20/t na data de fechamento da nossa coluna; ago/25 estava em US$ 541,10/t. No mercado interno, o açúcar cristal branco (São Paulo) registrava queda mensal de 7,5%, estando em R$ 141,66/sc (50kg), segundo dados do Cepea/Esalq.

No etanola produção do biocombustível no acumulado da safra 2024/25 somou 33,2 bilhões de litros, isto é, 3,43% acima do mesmo período do último ciclo, sendo 21,1 bilhões de litros foram de etanol hidratado (+9,8%) e 12,1 bilhões de anidro (-6,1%). Do total, a fabricação do etanol proveniente do milho foi de 6,8 bilhões de litros, um aumento expressivo de 31,3% no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Essa produção com origem no cereal já é maior do que todo o volume produzido na temporada 2023/24, configurando um recorde na região. Dados também são da Unica.

As vendas de etanol nas unidades do Centro-Sul atingiram 3,1 bilhões de litros em janeiro, um avanço de 2,1% em relação ao ciclo passado. No mercado interno, o volume vendido do biocombustível do tipo hidratado foi de 1,8 bilhão de litros (+3,9%), enquanto o anidro totalizou 1,1 bilhão de litros em vendas (+5,3%). Vale ressaltar que na última metade de janeiro o volume do hidratado no mercado doméstico superou a marca de 1 bilhão de litros pela primeira vez na safra corrente, se tornando o maior valor quinzenal observado desde julho de 2019. Já no acumulado da safra até 01/02, as vendas tiveram crescimento de 10,7%, totalizando 29,8 bilhões de litros: 19,2 bilhões de litros de hidratado (+18,2%) e 10,6 bilhões de litros de anidro (-0,6%).

Ainda de acordo com a Unica, apesar da redução na moagem, a oferta de etanol se expandiu, impulsionada pelo incremento da produção a partir do milho, por um mix mais voltado à produção alcooleira nas usinas de cana, pelo acúmulo maior de estoques de passagem no início do ciclo 2024/25 e pela queda nas exportações do biocombustível, o que resultou em um notável avanço das vendas no mercado interno.

Segundo dados da B3 até 10/02, os produtores de biocombustíveis emitiram 4,5 mi de créditos para 2025, enquanto o total de CBios disponíveis para negociação – abrangendo as partes obrigadas, não obrigadas e os emissores – alcança 20,6 mi de créditos de descarbonização.

A Unica e a Bioenergia Brasil manifestaram preocupação com a inclusão do etanol no Memorando de Tarifas Recíprocas, anunciado dia 13/02 pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida busca equiparar o etanol brasileiro ao norte-americano, desconsiderando as diferenças em termos de sustentabilidade e redução de emissões de carbono, tornando inadequado o conceito de reciprocidade. As entidades esperam que governos estaduais e a indústria americana se mobilizem para barrar a iniciativa.

Com a entressafra da cana-de-açúcar em curso, os estoques de etanol no Centro-Sul seguem em queda. No fim da 2ª quinzena de janeiro, as usinas da região armazenavam 6,5 bilhões de litros, representando uma redução de 16,2% em relação à quinzena anterior e de 12,5% na comparação anual. Em São Paulo, os estoques somavam 3,5 bilhões de litros em 1º de fevereiro, queda de 15,5% na quinzena e de 14,1% frente aos 4,0 bilhões de litros do ano passado, segundo o Mapa.

Um estudo da consultoria Céleres aponta que, nos próximos 5 anos, 18 novas usinas de etanol de cereais devem entrar em operação no Brasil, adicionando de 5 a 7 bilhões de litros anuais ao setor de combustíveis. A expectativa é que até 2028, a produção desse biocombustível, principalmente a partir de milho, sorgo e trigo, alcance 12,2 bilhões de litros, representando cerca de 35,0% do total nacional. Na safra 2023/24, o etanol de milho respondeu por 6,2 bilhões de litros, ou 18,7% da produção do Centro-Sul. Apesar de margens menos atrativas do que nos primeiros anos das novas usinas, a consultoria destaca que elas continuam positivas e atraem investidores.

No relatório divulgado pela SCA do Brasil em 21/02, os preços do etanol estavam em R$ 3,390/l para o hidratado (manutenção) e em R$ 3,300/l para o anidro (queda mensal de 0,3%). Os valores consideram a praça de Ribeirão Preto (SP) como referência e já incluem os impostos.

Valor do ATR: no primeiro mês de 2025, o preço do Açúcar Total Recuperável (ATR) fechou o mês em R$ 1,2866/kg, praticamente o mesmo valor do mês anterior; dados foram divulgados pelo Consecana. O histórico da safra 2024/25 é composto por: abr/24, R$ 1,1879/kg; mai/24, R$ 1,1684/kg; jun/24, R$ 1,1635; jul/24, R$ 1,1759/kg; ago/24, R$ 1,1730/kg; set/24, R$ 1,1507/kg; out/24, R$ 1,1716/kg; nov/24 R$ 1,2294; dez/24 em R$ 1,2872/kg; e jan/25 em R$ 1,2866/kg. No acumulado da safra, o valor do ATR está em R$ 1,1886/kg, em linha com a nossa sugestão de que fique entre R$ 1,18 e R$ 1,19 até o final da safra.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em março na cadeia da cana:

  1. Seguir observando o clima e as estimativas de moagem para a safra 2025/26, que se inicia em abril. As mais recentes indicam 630 a 650 mi de t. Analisar a previsão do mix de produção pelas usinas, considerando um aumento na oferta dos produtos e seus impactos em preços.
  2. No mercado de combustíveis, vamos avaliar o preço do petróleo. Desde o último mês, os barris registram queda média de US$ 10. Com maior produção prevista e ritmo menor da demanda, as previsões atuais indicam baixa nos preços para os próximos meses.
  3. Resultado do item anterior, importante acompanhar como essas baixas impactam o etanol, em vista da tendência de queda no preço da gasolina e menor competitividade. No Centro-Sul, os preços do biocombustível seguem mais elevados na entressafra, mesmo com maior oferta do etanol de milho.
  4. No açúcar, analisar os contratos futuros e entender como a safra brasileira maior (e a tendência de crescimento na oferta do adoçante pelas usinas) pode impactar o mercado. Apesar da alta pontual nos preços esse mês, estando acima dos 20 cents/lbp, a tendência é de retração no cenário atual.
  5. Por fim, observar como as medidas de Donald Trump podem afetar o setor energético global. O presidente norte-americano já criticou as taxas brasileiras para venda do biocombustível (EUA são nosso principal comprador) e tem se posicionado cada vez mais favorável ao petróleo e outras fontes não renováveis; além de estar cessando alguns tratados como o “Acordo do Clima de Paris”, alterando a política energética.


Marcos Fava Neves
é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio.

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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