Conteúdo apresentado durante reunião da Orplana

O que acontece com nosso agro?
• Em agosto as exportações do agro caíram 17,4% em valor em relação ao mesmo período do ano passado. Preços menores das commodities exportadas não compensaram em alguns casos o aumento de volumes exportados e os incentivos do novo patamar cambial. De janeiro até agosto deste ano exportamos US$ 59,7 bilhões, quase 12% a menos que no ano anterior, porém, se pensarmos este valor em reais, significa grande acréscimo na renda local das exportações.
• A queda no valor exportado não tira o brilho da safra 2014/15. Nossos entregam um recorde de 210 milhões de toneladas de grãos, produção pura para abastecer o Brasil que anda de marcha a ré. Em termos de área, estamos ocupando 57,6 milhões de hectares, quase 2% a mais que em 2014. E as perspectivas de plantio são promissoras para 2015/16. Se os preços mundiais em US$ menores refletirem em menor produção global, e houver alguma recuperação nos patamares de preços, podemos ter uma safra de boa rentabilidade aos nossos produtores.
O que acontece com nossa cana?
• A Datagro reviu sua projeção para esta safra (Centro Sul) de 591 milhões de toneladas para quase 605 milhões de toneladas. Segundo a Datagro, a produção de açúcar passou de 30,7 para 31,4 milhões de toneladas e de etanol de 27,8 para 28,2 bilhões de litros. FCStone projeta 592,2 mi ton. Efeitos do clima, no geral, favorável.
• A projeção mais recente da CONAB indica que a safra brasileira de cana será de 655 milhões de toneladas, 3,2% acima das quase 635 milhões da safra anterior. Já o IBGE indica uma safra total de 705 milhões de toneladas. Interessante discrepância, típica de um país com estruturas duplicadas para fazerem a mesma coisa.
• Lamentavelmente o ProRenova e o programa de financiamento para estocagem de etanol estão com recursos atrasados, devendo comprometer seu uso nesta safra.
• Até o final de agosto, a moagem no Centro Sul foi de 374,25 milhões de toneladas, enquanto que em 2014/15 estava em 372,69 mt. A UNICA acredita, porém, que em SP a moagem está 10 milhões de toneladas atrasada. Fica a questão que se as chuvas vierem em maior volume e frequência, se conseguiremos processar esta cana toda…
O que acontece com nosso açúcar?
• OIA estima que a safra 2015/16 trará déficit de 2,49 milhões de toneladas, mas que a principio não impactam preços devido aos estoques elevados, mas é o primeiro déficit em cinco anos, o que nos mostra um sinal diferente, finalmente!!!
• Preços do açúcar em agosto foram os mais baixos dos últimos 7 anos… 10,5 cents por libra peso. Porém, houve ligeira recuperação em setembro, devido às chuvas no Brasil e a safra mais “etanoleira” (58,5% da cana até o momento).
• Até o final de agosto, a produção de açúcar no Centro Sul estava 8,31% menor que a da safra anterior. A FCStone já reviu para baixo a produção 2,5% (acredita em 31,3 milhões de toneladas).
• Para o CEPEA, na última semana de agosto, os preços de exportação estavam mais remuneradores (R$ 49,27) que os do mercado interno (R$ 47,07) por saca de 50 kg. O açúcar remunerou 24% a mais que o etanol anidro, e 31% a mais do que o hidratado nesta semana analisada. O problema aí é o baixo preço do hidratado.
• Mesmo assim, nosso desempenho em agosto deixou a desejar. Exportamos 1,81 milhão de toneladas de açúcar, 23% a menos que julho e 21,5% a menos que o mesmo mês de 2014. As exportações foram de US$ 545 milhões, 25% a menos que julho e mais de 42% menores que os US$ 945 milhões que entraram em 2014.
• A Índia continua sem obedecer regras de mercado e inunda o mundo com açúcar. Na safra 15/16, com quase 29 milhões de toneladas, a maior produção desde 2006. Fora isto, está com 10 milhões de toneladas de estoques.
E terão mais apoio do Governo para exportar podendo pressionar os preços.
• Não bastassem as inundações de açúcar no mundo, um analista de consultoria internacional coloca também o risco de Cuba, com a recuperação da indústria da cana, voltar a produzir e a exportar açúcar, podendo chegar a mais de 2 milhões de toneladas em 2020.
• Interessante a paixão que o açúcar traz nestes países. Seguem aumentando a produção, com todo tipo de distorções.
O que acontece com nosso etanol?
• ANP acredita que o consumo de combustível cresce 0,1% em 2015.
• Nos sete primeiros meses do ano o consumo chegou quase a 10 bilhões de litros, 40% acima de 2014.
• Batemos o recorde mensal de consumo de hidratado em julho de 2015: 1,51 bilhão de litros (52,6% de crescimento em relação ao consumo de julho de 2014). O consumo de gasolina caiu 6,2%.
• As usinas do Centro Sul venderam em agosto 1,617 bilhão de litros de etanol hidratado, 43,8% acima de 2014. Já o anidro, segundo a UNICA, teve vendas de 862 milhões de litros (4,43% a mais que em 2014).
• Preocupa a queda do consumo de diesel, de quase 5% em relação a julho de 2014.
• Minas Gerais apresenta crescimento de 118% em relação ao ano passado, graças à redução do ICMS (diferença de 15 pontos em relação à gasolina). De janeiro a julho consumiu-se quase 900 milhões de litros, contra 700 milhões do ano todo de 2014. Produz 1,8 bilhão de litros, e deve consumir toda sua produção neste ano, e até importar.
• O etanol atingiu 24% do consumo dos carros de ciclo Otto, vejam o potencial existente!
• Em Goiás as vendas de hidratado também estão aquecidas. Julho de 2015 teve crescimento de 37% em relação ao mesmo período de 2014.
• Em 14/15 o Nordeste produziu 725 milhões de litros, e o consumo deve passar de 1 bilhão de litros neste ano, abrindo espaço no mercado.
• Em julho exportamos 213 milhões de litros de etanol, e em agosto foi exportado 182 milhões de litros. Podemos chegar a quase 1,5 bilhão de litros exportados nesta safra. Boa noticia são importações chinesas do etanol brasileiro, vindas das usinas da Noble/Cofco. Foram US$ 27 milhões no primeiro semestre, o que acende uma luz de esperança de um novo destino às exportações.
• Defasagem dos preços da gasolina no Brasil estava ao redor de 5%, o que diminui as chances de aumento de preços pela Petrobras. Já no caso do diesel, o preço no mercado interno está entre 20 a 30% acima do mercado internacional, justamente este combustível, que é usado fortemente pelas usinas na produção e pelo país, no transporte de cargas.
• O elevado endividamento, aumento nas taxas de juros, redução de ratings e outras desgraças aumenta a necessidade das usinas em fazerem caixa e contamina, como sempre, o preço do etanol. Na primeira quinzena de agosto, a média do hidratado foi de R$ 1,17/l e do anidro R$ 1,33/l.
• O aumento do consumo de etanol ajudou a derrubar em 50% o valor de combustível importado pela Petrobras até julho, de US$ 12 bilhões. Mais um benefício do setor à sociedade.
• Falou-se muito numa volta da CIDE ao seu tamanho original, que elevaria os preços da gasolina em 50 a 60 centavos, dando ainda mais competitividade ao etanol, mas esta medida não foi encaminhada no pacote enviado ao Congresso.
• O BNDES aprovou a renovação do programa PASS, para financiamento de estoques de etanol. Uma dotação de R$ 2 milhões, com diversas restrições e taxas de juro mais elevadas, por considerar na equação 75% de referenciais de mercado. Mas creio ser boa estratégia, pois a produção de etanol hidratado até o final de agosto está 15,22% maior que no ano anterior, um total de 10,55 bilhões de litros, e a de anidro recuou 12,7% (6,09 bilhões de litros).
• Com o alto consumo atual, aposto em recuperação de preços e bons resultados na entressafra.
O que acontece com nossa co-geração?
• Esta em estudo no Governo uma proposta de alteração na cobrança de encargos sobre a energia de biomassa de cana, para permitir que quando uma usina passe da produção de 30 MW, não tenha perda do desconto para uso da rede de distribuição e transmissão, incidindo o aumento apenas no volume que passar. O ideal seria retirar esta barreira e não cobrar esta tarifa.
Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires.