Para um bom planejamento de safra é necessário estimar ou usar como referência um número adequado esperado para a produtividade do canavial e a quantidade de sacarose que o canavial irá entregar (ATR). Diversos fatores impactam na composição do potencial produtivo de um canavial. A produtividade tem o impacto direto da idade do canavial, do manejo e tratos culturais adotados e do clima. A produção de sacarose é impactada pela seleção varietal, pelo período de maturação e também pelo clima.
Ano após ano, os produtores observam que os teores de sacarose tendem a aumentar ou a diminuir. O fator chave para validar esta percepção está associado com as variações climáticas ocorridas ao longo do desenvolvimento do canavial. Uma das consequências da variabilidade climática é a aptidão ao florescimento de determinadas variedades de cana.
O desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar é dividido em duas fases fisiológicas. A primeira fase é a de desenvolvimento vegetativo. A fase vegetativa é estimulada pelo período de alta umidade e altas temperaturas (out – mar), e ocorre um intenso ganho de massa verde. No final de março, as temperaturas tendem a ficar mais amenas, e as águas mais escassas, desencadeando a segunda fase de desenvolvimento da cultura. A partir desta condição, se inicia a fase de maturação, quando ocorre o acúmulo de sacarose, se estendendo até a colheita do canavial.
Um evento que afeta tanto o peso dos canaviais quanto a qualidade (quantidade de ATR) é o florescimento e/ou chochamento (isoporização) da cana. Quando o florescimento acontece, o teor de sacarose e o peso dos canaviais ficam reduzidos, e isso ocorre porque para emitir a inflorescência (pendão), a cana gasta energia, que está acumulada na forma de ATR e, consequentemente, reduz-se a quantidade de ATR.
Entre os fatores que afetam o florescimento da cana-de-açúcar podemos destacar o comprimento do dia (fotoperíodo), a temperatura e a umidade do solo. Assim, o acompanhamento destes fatores é de extrema importância para que se possa antever a ocorrência deste fenômeno e tomar medidas corretivas, caso necessário.
E a safra 24/25, vai florescer?
Em 1985, Pereira e colaboradores desenvolveram, no CCA/UfsCar, um modelo matemático para prever a possibilidade de florescimento da cana, baseado na variabilidade de temperatura (18o – 31oC), que deve ser aplicado nos dias em que o fotoperíodo tenha uma variabilidade entre 12,5 a 12 horas de insolação por dia. O período de análise que atende a essas premissas são os dias de transição entre o verão e o outono, de 25 de fevereiro a 20 de março (Equinócio de outono).
Para o ano de 2024, com base nas informações da estação meteorológica automática de Pradópolis (INMET), o modelo matemático apresentou uma alta possibilidade de florescimento (em torno de 75%) dos canaviais nesta safra 2024/2025. Entretanto, o volume de chuvas neste período não foi o ideal para induzir o florescimento.
Vale ressaltar ao produtor que quando o florescimento ocorre, perdas de produção significativas poderão ocorrer na lavoura. Algumas medidas podem ser tomadas para evitar maiores perdas no acúmulo de sacarose:
- Colher inicialmente as variedades precoces e mais propensas ao florescimento (RB 85 5156, RB 96 6928, CTC 9, CTC 22, IACSP 02 1064);
- Uso de inibidores de florescimento ou maturadores para antecipar o período de colheita (esta é uma decisão bastante técnica e deve ser compartilhada com os técnicos da Coplana, Socicana e usinas).
Adotando o manejo mais adequado, a expectativa é de uma boa safra!
Renato Machado
Coordenador Agronômico e de Sustentabilidade da Socicana