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Estratégias Inovadoras para o Controle do Bicudo-da-Cana

Nova abordagem no manejo de uma das pragas mais prejudiciais da cultura da cana-de-açúcar

Prof. Dr. Odair Aparecido Fernandes 

O bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) tem se consolidado como uma das pragas mais preocupantes da cana-de-açúcar, provocando perdas significativas de produtividade e exigindo novos enfoques no manejo. Estudos recentes conduzidos pelo CEPENFITO – Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar, da Unesp Jaboticabal, indicam que a presença da palha no solo facilita a movimentação e dispersão da praga, enquanto sua remoção ou enleiramento limita esse deslocamento e pode contribuir para um controle mais eficaz. As pesquisas também mostram que o corte da soqueira, manejo tradicionalmente utilizado para potencializar o efeito dos inseticidas, não aumenta a eficiência do controle químico e ainda pode provocar perdas de até 4% na produtividade. Já a aplicação de inseticidas associada à vinhaça surge como uma alternativa promissora para alcançar as fases imaturas do inseto no solo.

O crescimento da infestação por S. levis está diretamente relacionado às mudanças no sistema de colheita da cana. Com o fim da queima e a adoção da colheita mecanizada, a palha passou a ser mantida no campo, trazendo diversos benefícios agronômicos — como proteção contra erosão, conservação da umidade e aumento da matéria orgânica. No entanto, esse novo cenário também favoreceu a sobrevivência de algumas pragas, como a cigarrinha-das-raízes e o próprio bicudo-da-cana, aumentando a complexidade do manejo fitossanitário.

Para entender melhor a relação entre a palha e o comportamento do bicudo, o CEPENFITO conduziu estudos em três condições distintas: áreas com palha removida, palha enleirada sobre a linha da cana e palha distribuída de forma contínua. Mais de 2.700 insetos foram marcados e monitorados ao longo de semanas, permitindo observar que a presença contínua de palha facilita significativamente a movimentação do inseto, promovendo maior dispersão no campo. Por outro lado, nas áreas com palha enleirada ou removida, os insetos permaneceram mais concentrados próximos ao ponto de liberação, o que pode favorecer o controle localizado. Não foram observadas diferenças de comportamento entre machos e fêmeas.

Outra frente de pesquisa avaliou diferentes métodos de aplicação de inseticidas no solo. A técnica tradicional, que utiliza o corte da soqueira para aplicar o produto em maior profundidade, partia do princípio de que o ferimento da planta estimularia a atração do inseto adulto, aumentando a eficácia do controle. No entanto, os resultados de campo demonstraram que essa prática não melhora o desempenho dos inseticidas e ainda pode impactar negativamente a produtividade. Já a aplicação associada à vinhaça, conhecida como vinhaça localizada, mostrou potencial para ampliar a distribuição do inseticida no perfil do solo, podendo atingir com mais eficiência as larvas da praga.

As pesquisas também revelaram que a ocorrência de larvas de S. levis está fortemente associada aos danos na cultura durante a estação seca, enquanto os adultos foram mais abundantes no período chuvoso, sendo menos influenciados por variações climáticas. Essa diferenciação sazonal oferece subsídios importantes para o planejamento de estratégias de monitoramento e controle ao longo do ciclo da cultura.

Diante da complexidade do problema, os resultados obtidos reforçam a necessidade de um manejo integrado e racional do bicudo-da-cana, combinando práticas culturais, controle químico criterioso e o uso de novas tecnologias. A integração entre o manejo adequado da palha e a aplicação localizada de inseticidas com vinhaça representa um avanço importante na busca por soluções mais eficientes, sustentáveis e economicamente viáveis para os produtores.

O CEPENFITO seguirá investindo em pesquisa aplicada para aprimorar o conhecimento sobre o comportamento da praga e desenvolvendo estratégias cada vez mais eficazes de controle, sempre com foco na sustentabilidade, na produtividade e na rentabilidade da cultura da cana-de-açúcar.

  • A presença da palha favorece a movimentação do bicudo — sua remoção pode ser uma aliada no controle da praga.
  • Corte de soqueira não aumenta o controle do bicudo e ainda pode reduzir a produtividade.
  • Aplicações localizadas com vinhaça oferecem uma nova perspectiva no combate à praga.
  • O manejo integrado é o caminho para enfrentar o bicudo-da-cana com eficiência e sustentabilidade.

 

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