Notícias

Controle da Broca-da-cana e Cigarrinhas com Bioinsumos

Os nossos canaviais são atacados por diversas pragas, mas a broca-da-cana, Diatraea saccharalis, e as cigarrinhas-das-raízes, Mahanarva spp., são duas das três mais importantes da cultura. Não precisa de muito para se perder 1% na produtividade com essas pragas. Basta que a cana atinja 0,7% de entrenós brocados ou que duas ninfas das cigarrinhas por metro fiquem sugando por um mês as plantas para que esse prejuízo ocorra. É claro que os danos causados por essas pragas são diferentes entre as variedades, mas esses valores são só para se ter uma ideia dos prejuízos.

O monitoramento dessas duas pragas é muito importante para saber a hora certa de se realizar o controle, mas como elas são muito prejudiciais à cultura, entre novembro e março (no Sudeste, Norte e Centro-Oeste do Brasil), aplicar algum produto sem monitorar, é quase certo de acertar o alvo sem ver.

Para a broca-da-cana, o mais usual é a contagem de plantas com presença de lagartinhas nas folhas (especialmente nas bainhas) e região dos nós nos colmos (broca-fora). Quando atingem-se 2-3% das plantas com presença da praga, realiza-se o controle (no máximo, uma semana depois). Mas essa técnica tem sido substituída pelo monitoramento de adultos (mariposas) com armadilhas de feromônio, que para pequenas áreas pode-se usar uma armadilha para cada 20 hectares (o usual é uma armadilha por 50 hectares).

Para as cigarrinhas, o comum é entrar no canavial 20 metros (25 passos) e contar o número de ninfas em um metro, dos dois lados da planta, avaliando o solo até 5 centímetros de profundidade. Pelo menos 5 pontos desses precisam ser avaliados por talhão. Nas áreas maiores, avaliam-se 10 pontos de um metro a cada 200 hectares, espaçados em 25 passos cada.

Tomada a decisão de controle, é hora de escolher o que usar. Existem muitas opções de inseticidas químicos para ambas as pragas, mas também há muitas opções biológicas dentre os bioinseticidas.

Há opções biológicas para o controle isolado da broca-da-cana ou da cigarrinha, mas existem opções que controlam ambos. É o caso do fungo Isaria fumosorosea (hoje mudou para Cordyceps fumosorosea). Ele foi desenvolvido inicialmente para controlar a broca-da-cana.

Atualmente, o fungo Isaria tem sido também utilizado para o controle das cigarrinhas-das-raízes, com ação superior ao do fungo Metarhizium anisopliae, por matar ninfas pequenas, grandes e adultos dessa praga, enquanto Metarhizium tem melhor ação em ninfas pequenas e adultos.

Em momentos em que as duas pragas estão presentes, o fungo Isaria é uma ótima opção biológica. Além da broca e das cigarrinhas, o fungo exerce algum controle sobre Sphenophorus levis, pulgões, cupins e cochonilhas.

Se for controlar apenas a broca-da-cana, existem muitas opções, como podem ser vistas na tabela. Existem outras bactérias que estão começando a entrar no mercado, assim como o parasitoide Tetrastichus howardi (controla lagartas grandes e, principalmente, pupas), que também farão parte das opções de controle.

 

Relação dos princípios ativos dos bioinseticidas mais comuns para o controle da broca-da-cana

 

A bactéria e os fungos, atualmente, são aplicados em pulverizações como aquelas feitas para inseticidas químicos. Os produtos formulados podem ser aplicados em qualquer horário do dia, desde que as plantas estejam começando a fazer sombra no solo (a partir de 60 dias do plantio ou corte). Entretanto, o mais comum é iniciar as aplicações dos produtos um pouco antes do aparecimento dos 3 primeiros entrenós, ao redor dos 90 dias, caso a área tenha a presença da praga (2-3% das plantas com broca-fora ou mais de 10 machos capturados em 30% das armadilhas de feromônio).

Os parasitoides são aplicados com drones, mas a aplicação pode ser feita manualmente dentro de copinhos (Cotesia) ou cápsulas (Trichogramma). São aplicados em área total, em faixas de 50 (Cotesia) a 30 metros (Trichogramma), via drone, ou a cada 50 (Cotesia) ou 20 metros (Trichogramma), se manual.

Entretanto, ambos podem ser aplicados apenas na bordadura do talhão, caso o canavial esteja localizado em área de restrição (muito distante da sede, em locais de atoleiros intensos ou próximo a povoados) ou que não tenha histórico de altas infestações.

Nesse caso, calcula-se a dose a ser aplicada no canavial todo e divide-se a dose por 4 (Cotesia) ou 5 (Trichogramma) para ser aplicada na bordadura (20 metros para dentro do talhão). No caso de Trichogramma, preferir o esquema de 5 liberações em semanas seguidas.

Se for controlar apenas as cigarrinhas, existem menos opções do que para a broca, como podem ser vistas na tabela. Como bioinsumo, ainda existe o óleo de neem enriquecido com compostos de Azadiractina, para o controle de ninfas das cigarrinhas, com períodos de ação variando de 30 (para infestações maiores do que 5 ninfas por metro) a 90 dias (para infestações menores do que 5 ninfas por metro).

 

Relação dos princípios ativos dos bioinseticidas mais comuns para o controle das cigarrinhas-das-raízes

 

Hoje é possível manejar a broca-da-cana e as cigarrinhas-das-raízes com bioinseticidas. Entretanto, enquanto não há o costume de usar esses produtos, a melhor opção é o Manejo Associado, em que químicos e biológicos interagem harmoniosamente.

No manejo associado da broca, no início das infestações, em outubro-novembro, comece com um inseticida químico diamida ou com espinosina + metoxifenozida, depois siga para Trichogramma ou os fungos e, se precisar de uma terceira aplicação, siga para a bactéria, Cotesia ou fungos.

No manejo associado das cigarrinhas, na primeira aplicação, misture com 85-90% da dose do seu inseticida químico, a dose completa de Metarhizium, o que pode ser repetido na segunda aplicação. Se uma aplicação quando o canavial estiver alto for necessária, prefira Metarhizium ou Isaria.

Muitas outras opções surgirão para o controle das pragas da cana-de-açúcar, assim como novos procedimentos para os produtos atuais. Mantenha-se atualizado!

 

 

Alexandre de Sene Pinto

Consultor em Manejo de Pragas da Occasio, Piracicaba/SP e
Professor do Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto/SP

Cadastre-se e receba novidades

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site e para entender o comportamento de navegação.
Se você continuar a usar este site, entendemos que você está de acordo. Em caso de dúvidas, leia nossa Política de Privacidade e LGPD.