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Bicudo da cana-de-açúcar Sphenophorus levis: a importância do monitoramento para o sucesso em seu manejo

Introdução

O bicudo da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae) é considerado atualmente uma das pragas principais da cultura da cana-de-açúcar. As larvas deste besouro destroem os rizomas das touceiras, que, sob elevadas infestações, acabam morrendo. Com isso, ocorre redução da longevidade e produtividade do canavial, o qual precisa ser reformado. Em números, as perdas causadas por esse inseto-praga podem atingir 30 t/ha, além de perdas adicionais relacionadas à rebrota.

Esse inseto foi descrito pela primeira vez em 1978, ocorrendo em cana-de-açúcar no estado de São Paulo. A importância do inseto-praga para a cultura veio com a proibição das queimadas no processo de colheita, pois as queimadas acabavam sendo uma forma preventiva de redução da incidência de pragas de solo na cultura da cana-de-açúcar. Com a colheita mecanizada, a palha descartada e acumulada no solo serve de abrigo e contribui para manter a umidade do solo e uma temperatura mais amena que favorece o desenvolvimento do bicudo.

Seu ciclo biológico pode variar entre 58 e 307 dias, que é relativamente longo se tratando de uma praga. Os adultos são noturnos e geralmente permanecem abaixo do nível do solo, sob a palha ou entre os perfilhos na base das touceiras de cana-de-açúcar. Embora possuam asas, esses insetos esporadicamente voam. Por isso, acredita-se que a principal forma de disseminação da praga seja através do transporte de mudas. Portanto, a seleção de mudas sadias é seguramente uma das principais medidas de controle. Todo produtor deve ter o cuidado de evitar a chegada desse inseto na área, pois a sua erradicação é muito difícil.

Como é um inseto com voo restrito e se movimenta lentamente, sua dispersão é considerada baixa, e consequentemente, a sua distribuição ocorre normalmente em reboleiras. As infestações dessa praga são mais notórias de acordo com o avanço na idade do canavial. Entretanto, não é raro encontrar danos significativos em cana planta, indicando que deva haver atenção especial ao material quanto à procedência das mudas que podem vir previamente infestadas. Ainda, outro fator que pode contribuir para infestações iniciais altas é a reforma utilizado o sistema de MEIOSI (Método Inter Ocupacional Simultâneo), pois a permanência das linhas-mãe pode servir como abrigo temporário para disseminação do bicudo quando a cana estiver instalada. Para tanto, o histórico de infestação na área e o monitoramento constante são fundamentais para auxiliar na tomada de decisão de controle.

Apesar da importância do inseto, os métodos de controle ainda não alcançam níveis satisfatórios de eficiência. O controle químico, por exemplo, tem eficiência estimada de 60% na redução da população da praga. Por esta razão, o bicudo da cana-de-açúcar se tornou praga primária da cultura. Assim, os produtores precisam se atentar sobre a praga, realizar o monitoramento e controle, e, principalmente, evitar sua disseminação. A avaliação da percentagem de tocos (base do colmo) atacados após a colheita, antes do corte de soqueiras, é necessária para determinar a intensidade de ataque da praga. Estudos mostram que a porcentagem de ataque e de prejuízo causado pelo S. levis nas lavouras de cana-de-açúcar segue uma relação de um para um.

Importância e como proceder a amostragem do bicudo da cana

Um dos pilares críticos em programas de Manejo Integrado de Pragas – MIP é o monitoramento ou amostragem. Durante a amostragem é que se obtém informações sobre a quantidade de insetos presentes na área. Isso permite estimar se pode haver prejuízo econômico, bem como dar suporte para a tomada de decisão sobre a necessidade de controle da praga. Além disso, a amostragem permite identificar focos de infestação permitindo que medidas de controle sejam adotadas prioritariamente nestes pontos.

A partir dos dados populacionais coletados em campo, esta informação é contrastada com os índices de tomada de decisão, entre os mais conhecidos o Nível de Controle ou Ação (NC ou NA). Assim, o controle de S. levis quando suas populações atingem o NC é fundamental para evitar que haja perdas econômicas por esta praga.  Por outro lado, o controle deste besouro quando suas populações são baixas (abaixo do NC) aumenta o custo de produção e pode causar impacto ambiental e risco à saúde dos colaboradores. Uma pesquisa conduzida em 2020 sugere que o NC para o controle desta praga é aproximadamente 3,3% e 4,8% tocos atacados considerando controle químico e biológico (Beauveria bassiana), respectivamente. No entanto, é importante frisar que este índice não é estático, uma vez que as variáveis para seu cálculo são dependentes do custo de controle da praga, produtividade e valor de produção da cana.

Uma equipe bem treinada é essencial para gerar informações confiáveis. Os monitores devem ser capazes de identificar e diferenciar os danos e formas biológicas das diferentes pragas de solo que podem estar presentes na área. Para a amostragem do bicudo, é necessária a abertura de trincheiras na linha da cultura, removendo a touceira e seccionando os rizomas para visualização dos danos. Reconhecer estas características é primordial, pois assim, medidas de controle serão adotadas de acordo com a praga ou pragas presentes. Entre as pragas de solos que podem ocorrer estão a broca rajada da cana-de-açúcar Metamasius hemipterus (Coleoptera: Curculionidae) e a broca peluda Hyponeuma taltula (Lepidoptera: Erebidae). A injúria provocada por S. levis deixa uma serragem fina enquanto a larva broqueia o rizoma. No caso da broca rajada, a serragem é mais grosseira e durante a pupação, a larva constrói uma câmara pupal com as fibras longas da cana. Por outro lado, o dano provocado pela broca peluda provoca lesões enegrecidas como presença de galerias no rizoma. Em todos os casos, é sempre interessante observar a injúria e associar a(s) forma(s) biológica(s) ocorrentes (fotos a seguir).

Autores do artigo: Mestranda Gabriela Franchini, Doutorando João Rafael Silva Soares, Docente Dr. Odair Aparecido Fernandes – Departamento de Ciências da Produção Agrícola e Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Canade- Açúcar (CEPENFITO), FCAV/Unesp, Jaboticabal, SP.

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