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Estratégias para estabelecer produtividades sustentáveis para o próximo triênio em cana-de-açúcar


Marcos Guimarães de Andrade Landell

Finalizamos há pouco, o primeiro trimestre do ano de 2025 com uma série de expectativas para a canavicultura de São Paulo e do Brasil. Após um ano, 2024,  com fatos, que com certeza, afetarão a produtividade no presente ano, tais como incêndios em áreas que seriam colhidas e outras já colhidas, regimes hídricos incertos e fora do padrão histórico e uma nova doença consolidada em áreas maiores e com efeitos  negativos sobre a planta, a Síndrome da Murcha. Portanto, temos mais do que nunca que adotar novas tecnologias que anulem um pouco esses efeitos depressivos e nos garantam a inclusão de mais produtividade agroindustrial, gerando assim, a sustentabilidade econômica da atividade. 

Destacamos duas estratégias de verticalização de produtividade, com a intenção de minimizar os danos já citados:

–  A adoção de novas cultivares com maior potencial produtivo observando o uso de mudas de qualidade;

–  Uso de estratégias para a mitigação do déficit hídrico.

Quando pensamos na adoção de novas variedades, não podemos apenas atender o quesito “maior tonelada de açúcar por hectare”, mas também as adicionalidades que contemplem os aspectos da cana-de-açúcar mais moderna, que venham atender a colheita e plantios mecânicos, principalmente. Esses aspectos têm estreita relação com o hábito ereto e a uniformidade biométrica dos colmos. Canaviais eretos, via de regra, reduzem significativamente as impurezas minerais e também as impurezas vegetais. Isso se dá pelo menor contato dos colmos com o solo, favorecendo, assim, a qualidade da matéria-prima. 

Não podemos ignorar que temos no Brasil o maior esforço com grande sucesso de programas de melhoramento genético de cana-de-açúcar do mundo. O “fluxo de liberação” de novos cultivares no Brasil é fabuloso. A pesquisa brasileira, relativa à área de criação de novos cultivares, gerou nos últimos 30 anos a média de 6,5 novas variedades a cada ano. Portanto, o canavicultor tem à sua disposição um verdadeiro “arsenal” biológico, para conquistar ganhos expressivos em sua lavoura.  

Indicadores como aqueles destacados no quadro 1, nos deixam apreensivos em relação à ampliação da produtividade de nossos canaviais. Dados estimados de censo de plantio conduzido pelo IAC, em 2025, mostram que 85% das mudas utilizadas para esse fim, se originaram de canaviais comerciais. Isso é temerário. 

Quadro 1. Estimativa da origem de mudas que serão utilizadas para plantar os novos canaviais em 2025


O uso de novas variedades (com vantagens de 10 a 20%) deve ser incentivado, mas a falta de cuidado com a qualidade da muda poderá nos levar a perder esse ganho, anulado pelo fato do uso de mudas que, com doenças sistêmicas decorrentes da má qualidade, provavelmente, não consigam expressar o seu real potencial biológico. 

Um aspecto relevante nas novas variedades é o número de colmos por hectare, lembrando que a unidade biológica da cana-de-açúcar não é simplesmente o colmo, e sim a touceira. Isso ficou mais evidente com o desenvolvimento do sistema MPB (Mudas Pré-Brotadas) quando se percebeu que em variedades com grande potencial de perfilhamento, um canavial com elevada população de colmos, muitas vezes, poderia ser estabelecido com as touceiras plantadas, via MPB, com a distância entre as mudas de 0,80 cm. 

Portanto, canaviais com a metade de seu ciclo (6-7 meses), que atinjam 15 colmos/metro, terão em um hectare aproximadamente 100.000 colmos. Se cada colmo pesar 1 kg, a produtividade será de 100 toneladas/ha. Variedades mais antigas tinham como normal 9-10 colmos/m, o que perfazia no hectare o número de colmos de aproximadamente de 64 mil, ou seja, com o mesmo peso médio de um kilo por colmo, a produtividade agrícola atingiria algo próximo de 64 t/ha. O Programa Cana IAC tem buscado, como um dos principais caminhos do aumento de tonelada de açúcar por hectare, a seleção de novos tipos que apresentam um número significativamente maior. 

Como exemplo de novas variedades IAC de grande população de colmos, podemos citar a IACCTC07-8008, IACCTC07-7207, IACSP01-5503, IACCTC05-5579, IACCTC05-2562 e IACCTC06-5732, variedades com médias elevadas de colmos/metro (em torno de 14-18 colmos/metro). Isso significa, em canaviais com espaçamento simples de 1,50 m, algo em torno de 94.000 a 120.000 colmos/ha. Canaviais com essa população conseguem atingir produtividades de primeiro ciclo acima até de 150 toneladas/hectare, em manejo de sequeiro.  Dessa forma, dentre os passos para os ganhos transversais, podemos citar a implantação de canaviais de elevada população e a manutenção ou até ganhos na população de colmos ao longo dos cortes. A estratégia da Matriz do Terceiro Eixo, que preconiza a antecipação dos cortes nos ciclos mais novos (primeiro, segundo e terceiro cortes) tem auxiliado muito nesse objetivo.

A REDUÇÃO DO DÉFICIT HÍDRICO COM USO DA MATRIZ TRIDIMENSIONAL (3º EIXO)

O déficit hídrico (DH) é um fator preponderante no manejo de produção da cultura da cana-de-açúcar. Isso é fator central no estabelecimento de estratégias na vasta área onde a cultura é conduzida no Brasil. Sem dúvida nenhuma, a irrigação é o principal instrumento de mitigação de déficit hídrico, com resultados bastante eficientes, quando essa prática vem acompanhada de melhores usos de outros insumos, como a nutrição, a proteção de plantas e o conhecimento de resposta da cultivar adotada. Há uma previsão de que esta tecnologia deverá ser mais adotada no Estado de São Paulo com incentivos de financiamento anunciados para essa área. Isso nos faz prever um aumento significativo da produtividade paulista, mesmo que a área com esse insumo não chegue a mais de 20%.

Outra ação relevante tem sido o desenvolvimento de estratégias a partir do conhecimento da planta, mapeamento dos regimes hídricos regionais, o conhecimento mais detalhado dos ambientes edáficos, conferindo, assim, os ambientes de produção que teremos disponível para a nossa canavicultura. A partir de 1997, o Programa Cana IAC estabeleceu uma rede experimental com apoio de inúmeras empresas em forma de “network”, para avaliar genótipos da fase final do programa de melhoramento genético de cana do IAC e, assim, identificar as novas variedades para a área comercial das empresas. Essa rede foi estabelecida com base no conhecimento dos solos/ambientes de produção e época de colheita.

Quadro 2. Sequenciamento de colheita segundo o critério do manejo do Terceiro Eixo


Posteriormente, outros conhecimentos foram incorporados referentes à dinâmica do sistema radicular e também à “memória fisiológica”, o que nos permitiu estabelecer a aplicação prática em áreas produtivas como pode ser demonstrada no quadro 2.

Essa aplicação, que denominamos TERCEIRO EIXO, na prática fez com que ocorresse uma mitigação do DH. Esse fato tem relação com a produtividade agrícola e, assim, podemos considerar que uma redução de DH de 100 mm, ao longo de um ciclo de produção, poderá redundar em aumentos de TCH (tonelada de colmos por hectare) na ordem de 8 a 13 t/ha, com a resposta dependendo do ambiente de produção e do potencial biológico da variedade cultivada.  Quando a redução de DH é maior no ciclo de crescimento, maior é o ganho de TCH em relação aos manejos convencionais que se prendem a outros fatores como o ciclo de maturação, por exemplo. 

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