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Leitura dos Fatos do Agro e da Cana em Junho de 2017

O que aconteceu com nosso agro?

  •  A estimativa da CONAB de junho para a safra de grãos 2016/2017 agora está em 234,3 milhões de toneladas, sendo 25,6% a mais que as 186,6 milhões de 2015/16. A área cultivada é de 60,5 milhões de hectares;
  •  Na soja, a nova estimativa um mês após aumenta em quase 1 milhão de toneladas, passando para 113,93 milhões. A safra que termina é quase 20% maior que a anterior, de 95,4 milhões. Vejam que interessante, em apenas um ano agricultores expandiram a produção em 18,5 milhões de toneladas usando 1,9% a mais de área. Medalha de ouro ao sojicultor e a São Pedro;
  •  Também no milho a nova estimativa trás 1 milhão de toneladas a mais que a anterior, passando para 93,83 milhões (30,3 na primeira safra e 63,5 na segunda). Isto representa absurdos 41% a mais que a safra anterior. Agora vem os desafios para escoar tudo, desde capacidades portuárias, fretes, frangos e suínos para consumirem. Exportações podem bater recorde de mais de 32 milhões de toneladas na safra 2016/17 de acordo com a Agroconsult;
  •  Também no arroz subimos 14,4%, indo para 12,1 milhões de toneladas. Vem por aí 15,4% de algodão a mais tendo agora 1,488 milhão de toneladas de pluma;
  •  As estimativas servem como um choque mensal de motivação. Em relação aos preços destas commodities, em dólar praticamente andamos de lado, mas em reais a desvalorização cambial deu algum fôlego. Devem ficar como estão a menos que à partir de agora o “Saint Peter” atue nos EUA atrapalhando o desenvolvimento;
  •  O Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro), feito pela FIESP/OCB está em 100,5 pontos no primeiro trimestre de 2017, um pouco abaixo do quarto trimestre de 2016, mas quase 18 pontos acima do primeiro trimestre de 2016. Já o Índice de Confiança do Produtor Pecuário ficou em 89,5 pontos no período considerado, menos confiança a vista. E não pegou o embargo americano na análise, que saiu antes.
  •  De acordo com a Anfavea, no primeiro trimestre deste ano as vendas de tratores, cultivadores e colhedeiras 45% maior que o mesmo período de 2016.
  •  O valor bruto da produção agropecuária (CONAB e IBGE) em 2017 é de R$ 546,3 bilhões. No caso dos grãos, é um crescimento de 11,3% em valor e de 21% em produtividade. A safra ajuda no controle da inflação e nas exportações, impulsionando a balança comercial.
  •  Nossas exportações de maio foram um show, chegando a US$ 9,68 bilhões, 12,8% mais que maio de 2016, deixando um superávit de US$ 8,38 bilhões. Os cinco primeiros meses do ano já trouxeram US$ 38,86 bilhões, quase 6% acima de 2016. O superávit deixado foi de US$ 32,7 bilhões. Somente o complexo soja trouxe ao Brasil incríveis US$ 4,7 bilhões em maio com mais de 11 milhões de toneladas exportadas. A China comprou 33,3% das exportações do agronegócio brasileiro. O total exportado pelo Brasil (todos os produtos) até este mês foi de quase US$ 88 bilhões, deixando um saldo de praticamente US$ 30 bilhões. Nosso saldo este ano pode chegar a US$ 60 bilhões, dando grande fôlego, ajudado por preços quase 30% maiores das commodities, puxadas pelo minério de ferro.
  •  Foi lançado o plano safra 2017/18 que trará 190,25 bilhões de reais para o agronegócio. São 150,25% para custeio e comercialização (116,25 bilhões com juros controlados e o restante com juros livre. Poderia ser alocado mais para gerar valor e renda no Brasil, mas temos que entender que o cobertor está curto devido à má gestão que tivemos nas últimas décadas por estas terras;
  •  Na arena internacional, vale destacar que continuam diálogos entre o Brasil e o México para ampliar o comércio de grãos, principalmente importações de milho e soja do Brasil, visando reduzir sua dependência dos EUA e suas novas turbulências. O México importa quase 15 milhões de toneladas de milho por ano, e cerca de 4,3 milhões de toneladas de soja. Seria muito bom termos o México como um grande cliente do Brasil ainda mais exportando pelo eixo norte do país.
  •  Dr. Evaristo Miranda da EMBRAPA trouxe importantes números sobre a preservação ambiental. O Brasil tem 66% de seu território recoberto por vegetação nativa. A produção de grãos ocupa 9% do território nacional, sendo que 20,5% das áreas das fazendas são de vegetação nativa. Somando-se pastagens nativas, a área conservada do Brasil chega a 75% do território. O Brasil é um país comparativamente aos demais, extremamente ambiental, faltando um pouco mais de reconhecimento dos ambientalistas.
  •  Enfim, as notícias de maio no geral foram boas ao agro, exceto pelo embargo das exportações de carne in natura para os EUA. Aposto em aumento de preços das principais commodities em reais.

O que acontece com a nossa cana?

  •  De acordo com a UNICA, a moagem acumulada desta safra até o dia 01 de junho foi de 111 milhões de toneladas, contra 141,37 milhões na safra passada. Estamos atrasados em quase 30 milhões. Resultado da safra que começou atrasada com menos cana bisada e condições climáticas menos favoráveis à moagem. Estamos também com ATR bem mais baixo (118,36 contra 122,31) e a produtividade de 79,98 toneladas por hectare, o que dá 9% a menos que na safra anterior;
  •  O clima aparentemente ajudou um pouco neste mês, mantendo as projeções ao redor de 585 milhões de toneladas (3,65% menor) com produção de açúcar de 35,2 milhões de toneladas (1,2% menor) e de 24,7 bilhões de litros de etanol (3,71% menor), isto tudo para uma capacidade de moagem no Centro Sul ao redor de 630 milhões de toneladas;
  •  A Copersucar na safra 2016/17 teve faturamento de R$ 28,3 bilhões (31% com açúcar e 65% com etanol), aumento de 7,3% e deixou lucro líquido de R$ 254,4 milhões;
  •  A Tereos anunciou faturamento de R$ 10,2 bilhões e lucro líquido de R$ 191 milhões, contra prejuízo de R$ 180 milhões na safra anterior, vindos de um processamento de 20,1 milhões de toneladas com produtividade de 78 t/ha e ATR de 134,9 kg/t. A alavancagem caiu de 4,2 vezes para 2,9 vezes;
  •  CTC anunciou também lucro de R$ 12,5 milhões na safra 2016/17. Boa notícia também foi a aprovação da cana transgênica pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). É a primeira no mundo;
  •  Zilor processou na safra 11,341 milhões de toneladas (sendo 38% para açúcar), obtendo receita líquida de R$ 2 bilhões e lucro líquido de R$ 167,4 milhões. Sua alavancagem também caiu de 3,8 para 2,5 vezes.

O que aconteceu com nosso açúcar?

  •  O mês no açúcar não foi bom. Conjunto de notícias que ajudou a derrubar as cotações mais do que eu acreditava. Vamos aos fatos:
  •  Fatores como a entrega física de açúcar por um grande produtor em março, o câmbio (movimento de desvalorização do real derruba os preços do açúcar), expectativas aumentos de produções em concorrentes, queda do preço do petróleo e da gasolina no Brasil (mesmo com desvalorização do real), organizações (fundos) que investiram esperando valorização, elevação do imposto de importação na China (a taxa além da cota de 1,95 milhão de toneladas por ano foi elevada de 50% para 95%) e o consumo de hidratado que não reagiu como deveria;
  •  O preço chegou a ser o menor em 20 meses, tocando menos de 13 cents/libra peso. De acordo com a Archer Consulting, o valor do início de junho (R$ 1.027 por tonelada) foi o menor desde setembro de 2015. E pensar que neste ano já tivemos 21,49 cents (06/02) quando bons analistas e alguns sortudos aproveitaram para vender;
  •  Copersucar já acredita em queda na produção de açúcar na safra 2017/18 devidos aos preços baixos e etanol mais competitivo. De 36 milhões, esperam agora 35,5 milhões de toneladas. Quanto maior a distância em relação ao porto, mais a conversão para etanol tem sido observada. Esperam também mudança no superávit de 2 a 3 milhões de toneladas, a depender deste movimento que já alertei na coluna de maio, para menor. Tal como a Copersucar, a Archer acredita que a produção de açúcar pode ser 1,5 milhão de toneladas menor;
  •  Para a Datagro, produção global de açúcar em 2017/2018 passa de um déficit de 200 mil toneladas 640 mil toneladas de superávit. Também caiu o déficit do ciclo 2016/2017, de 7,85 milhões para 6,78 milhões de toneladas, devido ao aumento de produção na Índia (de 19,2 milhões para 20,5 milhões de toneladas em 16/17 e 23,5 milhões para 24,2 milhões em 17/18. Produção também cresceu na China de 9,8 milhões para 10,47 milhões. Também deve aumentar o açúcar europeu de beterraba, puxado pela Ucrânia;
  •  A Organização Internacional do Açúcar (OIA) mudou sua projeção para o déficit global da commodity na safra 2016/2017 para 6,465 milhões de toneladas, superior ao último relatório que esperava 5,869 milhões. A produção deve ser de 165,928 milhões (0,3% maior) e o consumo de 172,393 milhões (1,22% maior). Em relação a 2017/18 acreditam em superávit de 3 milhões de toneladas, que deve ser mantido também em 2018/19. Como sempre digo que “preço muito bom não é bom” vamos colher agora os resultados dos excelentes preços em alguns momentos de 2016;
  •  Pela SUCDEN, na safra 2017/18, o mundo produzirá 183 milhões de toneladas e consumirá 179,5 milhões (1,4% maior), deixando um superávit de 3,5 milhões. Produção puxada por União Europeia, Índia, Tailândia e China. São menores também as probabilidades de eventos climáticos.
  •  Porém, o Rabobank aposta em preços maiores até o final deste ano, devido aos fundos de investimentos, pois acredita que os preços estão baixos demais observando a relação entre estoque e consumo;
  •  Maio foi muito bom para as exportações. Enviamos 2,440 milhões de toneladas de açúcar (bruto e refinado) o que representa um crescimento de 50,4% sobre o mês anterior e 21,3% acima de maio de 2016. Entraram US$ 1,036 bilhão, 43,2% a mais que os US$ 723,7 milhões de abril e quase 55% maior que os US$ 671 milhões de maio passado. Até o final de maio, o volume total vendido (acumulado do ano) atingiu 9,693 milhões de toneladas (cerca de 1,5% a menos), mas a receita está 40,5% maior, atingindo US$ 4,239 bilhões;
  •  Ponto negativo para nós foi a estimativa da UNICA que a taxação da China pode reduzir as exportações do Brasil em 800 mil toneladas de açúcar neste ano e também o acordo entre os governos de Estados Unidos e México que permite a este continuar a vender açúcar aos EUA. Porém o México terá que alterar a proporção de 50% para 30% de açúcar refinado nas vendas totais, permitindo mais refino nos EUA. Os preços mínimos e nível de pureza também aumentaram;
  •  Minha leitura está alinhada com o Rabobank, de preços maiores para o açúcar em breve e uma média de preços entre 16 a 17 cents/libra peso nesta safra, a menos que o Petróleo caia mais e não consigamos escoar mais cana via hidratado, o que neste momento não é minha aposta.

O que acontece com nosso etanol?

  •  Pela ANP, o consumo de combustíveis em gasolina equivalente cresceu nos últimos 12 meses 0.14%. Etanol anidro e gasolina A (sem mistura) cresceram 5.78%, e o hidratado caiu 19,49%, trazendo a proporção para 44.4% de etanol e 55.6% de gasolina;
  •  Em maio também a venda de etanol pelas Usinas caiu 12,15% em relação a maio de 2016, para 2,10 bilhões de litros. Desde o início da safra, as vendas caíram 14,26%, somando 3,82 bilhões de litros. O anidro caiu 9,18% e o hidratado 17,79%;
  •  Foi aprovada pela Comissão Especial da Câmara Federal uma proposta que permite aos municípios colocarem uma CIDE municipal para custear transporte público. Falta agora ser aprovada pelo plenário, portanto pode ter chances de nos municípios canavieiros, ela ser aplicada apenas para a gasolina, ajudando no consumo de hidratado. O Governo volta a falar em CIDE, com a queda da arrecadação, o que pode ser um alento neste momento de queda dos preços do petróleo;
  •  A queda nos preços do açúcar e a possibilidade do Brasil fazer mais etanol já afeta as expectativas com exportações do etanol de milho dos EUA, mostrando como as coisas são inter-relacionadas no complexo agronegócio mundial;
  •  A Nissan conclui neste mês um primeiro momento de testes do projeto e-Bio Fuel Cell, o carro elétrico que usa etanol com fonte geradora de hidrogênio que é transformado em eletricidade. Mas a empresa crê que apenas após 2020 esta tecnologia estará disponível, o que foi triste, pois eu achava que poderia vir antes;
  •  Um caso de sucesso é o Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético, segundo estudo apresentado pela Secretaria do Meio Ambiente contribuiu reduzindo praticamente 10 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente entre as safras 2006/07 e 2016/17. Também deixamos de lançar 56 milhões de toneladas de poluentes, entre eles o CO (monóxido de carbono). O número de colhedoras saltou de 753 em 2006/07 para 3000 em 2016/17. A queima hoje está restrita a apenas 2,5% do território paulista com cana. Trata-se de um presente dado pelo setor à sociedade paulista, praticamente sem cobrar;
  •  Finalmente foi atingido o limite de etanol que pode ser produzido à partir do milho nos EUA desde que a lei passou no congresso em 2007, que estipulou 15 bilhões de galões em 2017. Como a lei coloca que devem ser produzidos 36 bilhões de galões até 2022, outros tipos de biocombustíveis tem que acelerar o passo para atingir esta produção até lá, o que não vem acontecendo. Para crescer, a indústria de etanol dos EUA precisa das exportações e do crescimento de combustíveis que levem mais etanol, como o E85;
  •  Os preços do petróleo, que mês passado foram favoráveis ao etanol por terem subido, voltaram a cair, mesmo com anúncios de corte da produção feitos pela OPEP. Esta variável vem atrapalhando bem a cana nos últimos 30 dias;
  •  A Petrobras abaixou o preço da gasolina, justificando por uma necessidade de recuperação de participação de mercado pois as importações de diesel e gasolina aumentaram bastante em seus concorrentes em detrimento às compras nas refinarias da empresa, trazendo com isto maior ociosidade nos ativos de refino da empresa. Pela ANP, as importações de diesel saltaram 47% no bimestre, motivadas por um prêmio de 16,4% e de quase 3% na gasolina. Esta queda atrapalhou o retorno do hidratado;
  •  A EPE (Empresa de Pesquisa Energética) publicou sua nova análise dos próximos 10 anos no Brasil. Entre as principais conclusões estão uma queda de participação de mercado da Petrobrás na produção nacional de petróleo de 78% para 70% até 2026 e nossa produção deve dobrar para algo entre 4,7 milhões e 5 milhões de barris diários em 2026;
  •  Na visão da EPE a demanda (Ciclo Otto) não acompanha a oferta pois crescerá apenas 9,25% até 2026 e o Brasil passará a exportar 1,5 milhão a 2 milhões de barris/dia. A boa notícia é o aumento na participação do hidratado dos atuais 30% para 46% em 2026, com expansão de uma a duas novas usinas por ano à partir de 2021. A EPE está mais verde recentemente;
  •  Preços caíram muito (6% desde o início da safra e 28% desde o início do ano) graças à queda do preço do petróleo mas o consumo não reagiu, ficando pouco acima do 1 bilhão de litros.
  •  Fechando, o etanol hidratado precisa recuperar espaço no mercado para ajudar no preço do açúcar. Continuo crendo que como temos menos cana e a economia começa a dar sinais de vida, eu não venderia agora.

 

Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires e Membro do Conselho da Orplana.

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