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Leitura dos Fatos da Cana em Fevereiro de 2016

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O que acontece com nosso agro?

  • Na estimativa da primeira semana de fevereiro, a FAO coloca que a produção mundial de cereais no ciclo 2015/16 será de 2,531 bilhões de toneladas, 30,1 milhões abaixo do recorde de 2014/15. O consumo estimado é de 2,527 bilhões (0,8% a mais que em 14/15). Haverá uma redução de apenas cerca de 1 milhão de toneladas do alto volume de estoques existentes, permanecendo estável em cerca de 25% da produção. A safra 15/16 deve transacionar globalmente cerca de 368 milhões de toneladas de grãos. Portanto, sem eventos climáticos, preços devem permanecer com pouca perspectiva de aumento.
  • Seu índice de preços de commodities caiu 1,9% em relação à dezembro de 2015 e está 16% menor que em janeiro de 2015. A oferta segue ampla e o nível de estoques confortável nos grãos, o que derruba também os preços dos óleos e das carnes.
  • E no Brasil, pelo levantamento da CONAB (02/16), teremos 210,3 mi. T. de grãos, o que equivale a 1,3% a mais que 14/15 (2,6 mi T. a mais). Soja deve aumentar 4,7 mi. T. Este acréscimo na soja, que teve 1,1 mi de hectares a mais de plantio, é o responsável pelo aumento de quase 600 mil ha na área cultivada no Brasil, em apenas um ano, roubando área principalmente do algodão e do milho.
  • A China deve continuar o vigoroso crescimento da importação de alimentos, mesmo crescendo menos, pois o plano quinquenal do Governo Chinês privilegia o consumo e a produção interna não acompanha este crescimento, devido à pouca possibilidade de expansão dos recursos naturais (terra, água e qualidade do solo). Maiores importações permitirão inclusive preços mais convidativos ao consumo, ampliando ainda mais as quantidades demandadas. Boa perspectiva para nós.
  • Fechamos as exportações de janeiro do agronegócio com uma ótima notícia. Os volumes embarcados cresceram 8,7% em relação a 2015. O valor foi menor, devido ao menor preço das commodities em geral, e caímos de US$ 5,64 bilhões para US$ 4,98 bilhões. Como as importações do agro caíram muito, de US$ 1,24 bi para 913 milhões, o saldo foi de US$ 4,07 bilhões. Em reais, muito mais recurso circulando pelo Brasil do agro!

 

O que acontece com nossa cana?

  • Triste nota foi a relação do setor com o BNDES em 2015, que trouxe o menor comprometimento de valor dos últimos 10 anos (excetuando-se 2006). Apenas R$ 2,7 bilhões, 60% a menos que em 2014. A linha de estocagem que era para sair em maio, saiu muito tarde (em setembro apenas) e apenas R$ 20 milhões foram usados (1% do disponível). Caíram também os investimentos industriais (65%) e agrícolas (53%), tendo tido pequeno aumento apenas em cogeração. E com isto, a geração futura de valor fica comprometida, como praticamente em todas as áreas do Brasil.
  • Interessante ver a estrutura portuária da Copersucar trabalhando cada vez mais com grãos em complemento ao açúcar. Este é o jogo mundial da eficiência, melhor uso dos ativos, que permite com que os custos médios de operação caiam, tornando toda a estrutura mais eficiente. Eficiência e boa gestão financeira na cana são dogmas!
  • Estimativas iniciais apontam para 43% da safra de 620 mi. T. de cana dedicadas ao açúcar, contra 41,8% em 2015/16. Isto me preocupa pois pode trazer rentabilidade maior no curto prazo, mas comprime os preços internacionais do açúcar.

 

O que acontece com nosso açúcar?

  • Estima-se que as usinas já tenham vendido cerca de 60% do açúcar que será exportado no ciclo 16/17 (1 de abril de 2016 a 31 de março de 2017). Isto seria algo próximo a 15,6 mi. T. das esperadas 26 mi. T. a serem exportadas neste ano safra, onde colocaríamos 2 mi. T. a mais no mercado internacional. Isto tranquiliza um pouco num momento onde os preços caíram mais de 10%, principalmente devido a anúncios de maior safra no Centro Sul (Copersucar estimou em 625 mi. T). O preço não caiu para quem fixou bem.
  • China bate recorde de importações em 2015: 4,5 mi. T. Porém, uma autoridade do Ministério da Agricultura da China disse que eles estimam em 1 milhão de toneladas o total de açúcar que entra contrabandeado neste país, principalmente pelas fronteiras com Vietnã e Mianmar. Neste caso então as importações chinesas seriam de pelo menos 5,5 mi. T.
  • Analistas acreditam que o ciclo 16/17 terá uma cotação média de 14 cents/libra peso, o que permitirá retorno para as usinas mais eficientes e não incentivará a produção internacional, principalmente nos países que não tiveram a desvalorização observada no real.
  • Será um ano de alta volatilidade nos preços do açúcar, o que realça a necessidade de excelente estratégia comercial. Pode tranquilamente flutuar entre 11 e 16 cents/libra peso.
  • Preços caíram bastante desde o início do ano pois acredita-se numa produção de açúcar maior no Brasil, podendo passar de 34 mi. T. e na União Europeia (22% de aumento, para 17 mi. T.). Esta vai contra todas as forças de mercado e segue aumentando a produção de maneira artificialmente subsidiada. Este acréscimo poderia levar o mercado ao equilíbrio novamente, daí a importância do Brasil jogar com a possibilidade de direcionar mais cana para o hidratado e mudar esta conversa.
  • A Kingsman acredita que a produção no Centro Sul passe de 35 mi. T., contra sua última previsão que foi de 32,94 mi. T. Prevê ATR de 134,5 kg/ton. Mantém uma previsão de déficit de 4,86 mi. T. para o mundo na safra 15/16 (termina em 30 de setembro, com produção de 177,087 mi. T. e consumo de 181,94 mi. T.).
  • Espera-se uma produção entre 25 e 26 mi. T. na Índia nesta safra (outubro a setembro), contra 28,3 mi. T. na safra anterior (14/15).
  • No mercado interno, os preços em janeiro permaneceram acima de R$ 80/sc 50 kg, o que traz um bom retorno.
  • Outra boa notícia é o preço do frete de Santos a Taiwan, medido pela FCStone. Em janeiro estava em US$ 18,14/t, 77% abaixo do valor de início de 2014. Isto graças aos efeitos do petróleo mais barato e desaceleração da taxa de crescimento da economia chinesa. Eleva nossa competitividade na China vis a vis o açúcar da Tailândia.

 

O que acontece com nosso etanol?

  • Os dados de 2015 apontam para recorde na venda de hidratado. Foram vendidos pelas distribuidoras aos postos o volume de 17,8 bi. L. A maior venda foi alcançada em 2009, com 16,47 bi. L. Consumimos em 2015 ao redor de 37,5% a mais que 2014. Segundo a ANP a gasolina caiu para 41,137 bi. L., quase 7,2% a menos que 2014. Considerando-se a adição de 27% de anidro na gasolina, chega-se a um consumo de 28,8 bi. L.
  • Apenas o estado de SP representou 53% do consumo de etanol no Brasil. Mesmo em dezembro, as vendas foram de 1,509 bi. L.
  • Na avaliação do CEO da Bunge em recente conferência em Dubai, este acredita que a demanda por etanol aumentará 40% até 2025, o que daria cerca de 200 mi. T. de cana a mais. Acredita na expansão da produção, mas aquém da velocidade da demanda. A empresa trabalha como meta de ter custo do açúcar ao redor de 10 cents/libra peso.
  • O Brasil possui hoje 4 usinas que podem moer cana e milho, com capacidade para produzir 75 milhões de litros de etanol à partir do grão.
  • Em mais uma das boas notícias que sopram da Argentina, o Presidente Macri anunciou o aumento da adição de anidro na gasolina, dos atuais 10 para 12% a partir de abril. A meta é atingir 15%. Apenas o etanol de cana poderá ser usado. Este aumento representa 160.000 m3.
  • O consumo de gasolina nos EUA deve aumentar com os preços baixos na bomba, e isto deve puxar o consumo de etanol. No caso do milho, estimam usar em 2016 aproximadamente 132 milhões de toneladas para misturar à gasolina (via etanol), e com este aumento do consumo, devem usar 600.000 toneladas a mais.
  • No Brasil temos que acompanhar o efeito dos preços mais altos no consumo de etanol. Em São Paulo já está acima dos 70%. É provável que a demanda em janeiro recue para 1,2 bi. L. e também caia em fevereiro. Em SP o etanol subiu ao consumidor quase 40% e na usina os preços estão 50% maiores. Outro fato a ser observado é no consumo geral de combustíveis, que pode cair devido à crise em até 5% neste ano.

 

Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013, foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires.  

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